Quando o sol desaparece, a noite traz com ela os seus mistérios, escondendo certos elementos e revelando outros. A falta de luz aguça os sentidos, os olhos ficam mais abertos e os ouvidos mais atentos. Tentamos ver além das sombras, sentimos o cheiro da terra e ouvimos os ruídos entre as árvores. Assim começamos a visita pelo Parque de Serralves, sem contar que iríamos ser surpreendidos pelas instalações luminosas que nos revelaram outros aspetos deste espaço único do Porto.
O percurso começa, pouco depois das 21h, no início do caminho que dá acesso ao Parque. As cores do arco-íris, projetadas numa das paredes brancas do Museu de Arte Contemporânea, chamam atenção. São o primeiro contacto com a exposição Serralves em Luz. “O nosso objetivo foi criar uma experiência noturna que fosse diferente, criar diversas sensações através da luz”, explica Nuno Maya, o cérebro artístico por trás da exposição.
Recorrendo a variadas fontes de luz, como o LED, o halogénio, o hmi, o laser ou o vídeo, o percurso de três quilómetros leva-nos por uma viagem imersiva pelo Parque de Serralves através de 24 instalações.
Podemos apreciar a beleza natural do espaço, através de uma iluminação mais clássica das faias, pinheiros-mansos, eucaliptos, carvalhos e outras árvores, com as folhas e os troncos a ganhar uma tridimensionalidade impossível de ser observada sem o recurso da luz.
A mais famosa escultura do Parque, a pá gigante (Plantoir), ganha uma nova aparência com um rendilhado de luzes que a envolve. A intenção foi recriar a luz do sol a passar entre as folhas das árvores. Logo a seguir, na emblemática Alameda dos Liquidâmbares, são recriadas as cores das quatro estações, enquanto percorremos este corredor de árvores majestosas, carregadas de folhas nesta época do ano.
A partir daí, começamos a ser transportados para ambientes mágicos e oníricos: a instalação das auroras boreais (simplesmente, fantástica) junto à Casa de Serralves que ganhou uma iluminação interior azul-piscina, quase como se fosse um aquário; as luas cheias que iluminam o passadiço suspenso TreeTop Walk; o misterioso lago; o “campo” de mais mil flores luminosas, a “dança” das folhas das árvores de ginkgo biloba ou as centenas de “pirilampos” que nos envolvem, já na parte final do percurso.
“A luz tem o poder de transformar as coisas”, afirma Nuno Maya. E visitar esta exposição é comprovar isso mesmo, através de uma experiência sensorial fora de série.
Saímos de Serralves, em direção ao carro, e a noite parecia mais escura. As sombras voltaram a dominar os espaços, as árvores tomaram contornos difusos, as nuvens carregadas corriam no céu, deixando para trás a magia da luz que continuará a iluminar o Parque até 17 de outubro.
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