A Gare do Oriente, do arquiteto Santiago Calatrava, é uma das estruturas que fazem parte do projeto de reciclagem/renovação da zona oriental da capital, para receber a Exposição Internacional em 1998, que coincidiu com um esforço de recuperação do parque arquitetónico da cidade, cujos primeiros passos já tinham sido dados em 1983, quando se realizou a XVII Exposição Europeia de Arte Ciência e Cultura, e retomou, em 1994, por ocasião da Capital Europeia da Cultura.

A "17.ª", como popularmente foi referenciada, trouxe uma especial preocupação pela recuperação de monumentos, e dar-lhes uma leitura europeia, libertando-os de uma carga historicista e nacionalista, com que eram ainda vistos, pouco menos de dez anos após o 25 de Abril.

No âmbito da 17.ª fizeram-se obras de restauro no Convento da Madre de Deus, cujo claustro foi fechado com vidro, no Mosteiro dos Jerónimos e na vizinha Torre de Belém, no Museu Nacional de Arte Antiga, que adquiriu a arquitetura interior que ainda hoje mantém, e renovado o traçado do Campo das Cebolas, onde a reconstrução da Casa dos Bicos repôs os dois pisos superiores, que tinham caído com o terramoto de 1755.

Este esforço foi acompanhado pontualmente noutros espaços da cidade, que se pretendia cada vez mais europeia. Portugal veio a aderir às Comunidades Europeias três anos depois.

Em 1994, quando Lisboa é Capital Europeia da Cultura, os ensinamentos da 17.ª são recuperados e o esforço de recuperação é mais vasto, com obras em espaços emblemáticos como o Coliseu dos Recreios, sala de espetáculos histórica da cidade.

A sala na Mouraria, na rua das Portas de Santo Antão, que abriu em 1890, inaugurou as obras de reabilitação com um concerto pela Sinfónica de Londres, dirigida pelo maestro Georg Solti.

A vontade de reabilitação foi acompanhada pela autarquia através da publicação de Plano de Pormenor de Reabilitação Urbana, visando a preservação das características do ambiente e património arquitetónico e artístico. Neste âmbito, a câmara colocou em marcha um programa denominado Sétima Colina, que permitiu a reabilitação de fachadas exteriores de vários edifícios civis de interesse artístico.

No âmbito desta política de restauros, foi também alvo de uma intervenção o órgão Fontanes, da Igreja de S. Vicente Fora, construído em 1765.

Em 1998, com a Exposição Internacional, sob o lema “Os Oceanos, um património para o futuro”, motivou a reabilitação da zona oriental da cidade, até então vocacionada para áreas fundamentalmente económicas e, paralelamente, um esforço de reabilitação arquitetónica, mas também de restauro de vários elementos do património, como aliás acontecera quatro anos antes.

Entre eles, a fragata D. Fernando II e Glória, o último veleiro nacional que realizou a viagem entre Lisboa e Goa, e que em 1963 sofreu um incêndio, tendo desde então ficado encalhada no Mar da Palha frente a Lisboa.

A reabilitação da área oriental onde funcionou a Expo’98 obrigou à descontaminação de terras e muitas das suas construções permaneceram, algumas com outros fins, outras ligeiramente alteradas, como o Casino Lisboa, que se instalou no que foi o Pavilhão do Futuro. O Oceanário e o Teatro Camões, sede da Companhia Nacional de Bailado, mantêm as funções.

Os novos e arrojados traçados arquitetónicos, dos quais o Pavilhão de Portugal, com a sua pala, de autoria de Álvaro Siza, é o mais destacado exemplo, “contaminaram” a cidade que foi assumindo traçados mais contemporâneos, paralelamente, aos tradicionais alinhamentos urbanos, que se foram reabilitando.

Farol desta renovação urbano é a Torre Vasco da Gama, de autoria dos arquitetos Nick Jacobs e Leonor Janeiro, e estruturas de Nuno Costa, que é, ainda hoje, o mais alto edifício em Portugal, com 145 metros de altura, ao qual se acoplou recentemente um hotel de autoria de Nuno Leonidas.

A cidade não só procurou mostrar-se de “cara lavada”, como assistiu a uma assinalável melhoria nos acessos, em que a Ponte Vasco da Gama é um dos exemplos, sendo ainda de destacar o alargamento da rede de metropolitano, e o rasgar de novas avenidas, nomeadamente a D. João II e a de Pádua.

A valorização da faixa ribeirinha, já mencionada em 1994, com a defesa da “abertura da Lisboa ao Tejo”, foi retomada e Lisboa ganhou mais uma marina, no denominado Parque das Nações, e a valorização de uma faixa litoral até ao estuário do rio Trancão, em Sacavém, no vizinho concelho de Loures.

Fonte: Lusa