A monumentalidade em Alcântara é esmagadora. Os arcos atravessam o vale numa extensão de 940 metros e, conforme salienta Mariana Castro Henriques, diretora do Museu da Água, "sem dúvida que a zona mais emblemática é o vale de Alcântara com os 35 arcos em ogiva e que do ponto de vista arquitetónico é efetivamente grandioso".

Aqueduto Águas Livres
créditos: andarilho.pt

O arco mais alto está a 65 metros do solo e tem 28 metros de largura. É o maior arco de pedra em ogiva no mundo.

Aqueduto Águas Livres
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Outra particularidade é que toda a estrutura do aqueduto resistiu ao tremor de terra de 1755.

O Aqueduto das Águas Livres é muito mais do que o vale de Alcântara. Circula por Lisboa Ocidental de forma subterrânea.

Existem cinco galerias que levavam a água a chafarizes de várias zonas de Lisboa e, mais tarde, a domicílios, hospitais, palácios, etc.

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A explicação para o aqueduto resistir ao terramoto de 1755, em particular no vale de Alcântara, a partir do "que está escrito e da documentação que existe, está no facto de não ser uma construção linear. O vale de Alcântara não é em linha reta, o aqueduto curva em duas zonas".

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"Por outro lado, há estruturas de ferro nos arcos em ogiva, o que, para a época, era uma técnica moderna e não era comum".

Podemos passear no aqueduto pelos corredores laterais e em alguns momentos espreitar para o eixo central, coberto, onde corre a água. A vista não é das mais deslumbrantes em Lisboa mas é inesquecível.

Aqueduto Águas Livres
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O formigueiro da cidade com carros, comboios e peões, mas o aqueduto, majestoso, sobrepõe-se a tudo.
Mariana Castro Henriques relata os muitos testemunhos que já ouviu e afirma que “a sensação que predomina é a surpresa pela monumentalidade da obra".

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"Nós não estamos nos dias de hoje, em particular os mais jovens, a percecionar uma obra daquela dimensão que servia para distribuição de água. Normalmente são obras que não são visíveis, estão escondidas. Eu julgo que será o fator mais premente. No entanto, é obvio que quando se faz a travessia do vale de Alcântara não se tem a mesma perceção do lado de fora".

Aqueduto Águas Livres
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"Quem vive em Lisboa e passa várias vezes por ali sente mais o monumento. É efetivamente uma obra de envergadura brutal que marca a cidade".

Foi D. João V que mandou construir o aqueduto. Os projetos já tinham sido estudados em reinados anteriores e algumas das obras nem foram muito demoradas, como por exemplo o vale de Alcântara.

Aqueduto Águas Livres
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“O início foi em 1731 e a obra terminou em 1799. Em meados do século XVIII, temos a chegada da água a Lisboa. A primeira parte está concluída com a construção da Mãe de Água no Jardim das Amoreiras. Depois é feita a distribuição da água pelas galerias e chafarizes. A primeira é a galeria do Loreto, em 1746 tal como a Mãe de Água. É uma obra longa. A construção do vale de Alcântara, a título de curiosidade, demora quatro anos a ser feita".

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Patriarcal créditos: andarilho.pt

O abastecimento de água a Lisboa através do Aqueduto das Águas Livres, a ramificação da rede a muitos edifícios através de 12 km de galerias e o reservatório da Patriarcal, no Príncipe Real, dão corpo a uma obra hidráulica complexa que ganha novo vigor, mais tarde, com Aqueduto do Alviela.

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Corredor de transporte de água no Aqueduto créditos: andarilho.pt

Por outro lado, surgem novos hábitos de consumo. Os números referidos por Mariana Castro Henriques são bem elucidativos:  “antes do aqueduto, a média de consumo de água por dia era de 1L por pessoa. Fazia-se por família. Depois da primeira fase do aqueduto, em meados do século XVIII, passou para 4L por pessoa. Na última fase, já inicio do século XIX,  era 7,5L. Atualmente a média é do consumo de cerca de 180L por pessoa. Nós gastamos muito mais água e os hábitos das sociedades são muito diferentes, inclusive em termos de higiene”.

Aqueduto Águas Livres
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Com a conclusão do aqueduto do Alviela, em 1880, o aqueduto das Águas Livres deixou de ter relevância e foi desativado há 60 anos.

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Mãe de Água Velha em Belas, na fase inicial do Aqueduto das Águas Livres créditos: andarilho.pt

Além do passeio sobre os arcos no vale de Alcântara ou do percurso subterrâneo na galeria do Loreto em visita guiada, é ainda possível ver a Mãe de Água nas Amoreiras, onde termina o aqueduto.

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Exposição na Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos créditos: andarilho.pt

Outro espaço interessante e habitualmente visitável é a Patriarcal, no Príncipe Real. A sede do Museu da Água é na Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos onde também se pode ver uma exposição permanente.

O Aqueduto das Águas Livres está classificado como Monumento Nacional.

No presente, na sequência da pandemia, os espaços do Museu da Água abertos para visitação são o Aqueduto das Águas Livres e a Mãe de Água nas Amoreiras.

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Mariana Castro Henriques, diretora do Museu da Água créditos: andarilho.pt

Aqueduto das Águas Livres tem o maior arco de pedra em ogiva do mundo faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.