Conhecida pela cidade dos amores e dos doutores, Coimbra desde sempre inspirou poetas, músicos e muitos quantos fazem da arte a sua forma de expressão.
A zona alta da cidade onde se encontra a famosa Universidade, uma das mais antigas do mundo, está classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade. São edifícios carregados de história e também de muitas estórias.
Uma dessas estórias relaciona-se com Cristóvão Ferreira, um missionário jesuíta português que até há bem pouco tempo apenas era conhecido no seio dos historiadores e que recentemente foi apresentado ao mundo, através do filme do realizador de Hollywood Martin Scorcese - Silêncio.
Cristóvão Ferreira era natural de Torres Vedras, mas foi em Coimbra que a 25 de Dezembro de 1596 entrou para a Companhia de Jesus. Dois anos mais tarde faria também em Coimbra os votos sacerdotais.
O complexo do antigo Colégio dos Jesuítas é composto pela conhecida igreja da Sé Nova e pelo edifício anexo, onde hoje funciona uma parte do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra. O Colégio das Onze Mil Virgens, como era originalmente designado, foi o primeiro Colégio Jesuíta em Portugal, construído no século XVI. Conhecido pelo alto rigor do ensino aplicado era uma autêntica escola de evangelizadores, cujo objectivo era formar padres capazes de espalhar a mensagem de Deus pelo mundo. Por este Colégio passaram muitos evangelizadores, o mais conhecido talvez seja o Padre António Vieira, um missionário que professou em terras brasileiras e que ainda hoje é bastante conhecido pelos seus escritos, entre os quais se destaca o “Sermão de Santo António aos Peixes”.
Em 1609 Cristóvão Ferreira foi enviado para a Ásia, onde foi missionário no Japão. Tornou-se chefe dos Jesuítas sob a opressão de uma ditadura militar (Shogunato Tokugawa), que marcou um regime feudal que vigorou no Japão durante 265 anos, mas após ter sido torturado renunciou à sua crença religiosa.
No século XVIII – altura em que os jesuítas foram expulsos de Portugal pelo Marquês de Pombal – o extinto Colégio passou para a posse da Universidade de Coimbra e para o Cabido (a assembleia da congregação religiosa). Desde então, a Sé Nova é sede episcopal da cidade. Na fachada da igreja ainda existem quatro estátuas de santos jesuítas que lembram as raízes do edifício: Santo Inácio, São Luís Gonzaga, São Francisco Xavier e São Francisco de Borja. O interior é bastante sóbrio de apenas uma nave, à maneira jesuíta e o que mais salta à vista são os retábulos da capela-mor, construídos de madeira entalhada e dourada, ao estilo barroco. Nessa talha estão quatro nichos que guardam as imagens de Santo Inácio, São Francisco de Borja, São Francisco Xavier e do jesuíta polaco Estanislau Kostka.
Não muito longe do edificado que constitui o antigo Colégio dos Jesuítas, encontra-se o Pátio das Escolas, o coração da Universidade de Coimbra. Os edifícios que compõem este conjunto arquitectónico são o Paço Real, a Torre da Universidade, a Porta Férrea, a Capela de São Miguel e a Biblioteca Joanina e já serviram de cenário a uma banda desenhada japonesa (manga).
Moyashimon, do japonês Masayuki Ishikawa é uma banda desenhada que retrata as aventuras de Tadayasu Sawaki, estudante da Universidade de Agricultura de Tóquio, que consegue ver e comunicar com diversos micro-organismos. Ora, o que acontece, é que o departamento de estudos agrícolas onde Sawaki estuda é representado por uma cópia do Pátio das Escolas da Universidade de Coimbra. Tudo aconteceu quando o autor nipónico visitou Portugal durante a sua lua-de-mel e se deixou impressionar pela paisagem da velha universidade no alto da cidade. Masayuki Ishikawa ficou de tal maneira impressionado que resolveu transformar o Pátio das Escolas no cenário fictício onde decorre grande parte do enredo da sua banda desenhada.
Depois do sucesso deste manga, que recebeu pelo menos dois prémios, Moyashimon foi adaptado a uma série de animação (animé) e a uma série em imagem real, ambas para a televisão.
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