O desejado reconhecimento como Património Cultural Imaterial da Humanidade por parte da Unesco é o corolário de um esforço do povo de Campo Maior que já se prolonga por mais de um século.
É a flor que faltava na decoração de cerca de uma centena de ruas, um trabalho laborioso que é feito quando o povo quer. Por estes motivos, tem o nome de Festas do Povo de Campo Maior.
“Quem faz as festas é o povo de Campo Maior. Temos um slogan na pandeireta que diz: há um sítio no Mundo onde as flores nascem quando o povo quer porque esta festa é feita pelo povo de Campo Maior."
"Por exemplo, a Câmara Municipal programa haver festas para o ano, faz-se uma reunião com moradores da rua, principalmente as pessoas que costumam ser cabeças de rua, são os encarregados de arranjar a rua."
"São eles que têm de ir buscar o material à Associação das Festas, distribuir pelas casas das pessoas ou numa casa onde nos reunimos para fazer as flores. Depois cabe aos próprios moradores e fazemos segredo.”
A descrição é de Lurdes Cal. Nasceu em Campo Maior, “já assisti e participei em muitas festas.”
No caso, a sua participação é a “dobrar”: “eu moro numa casa que fica de esquina, tenho duas ruas a ajudar”. No entanto, há uma ressalva. Como participa na confeção de flores para as duas ruas e o segredo é uma regra, não se pode descuidar. “Eu numa das minhas ruas não conto às da outra rua. Cada uma escolhe seu tema. No último ano, em 2015, eram 106 ruas e não havia uma única igual.”
Chegou a ser planeada a 35ª edição das Festas do Povo para o ano passado, mas a pandemia obrigou ao cancelamento. Agora, com o esperado reconhecimento de Património da Humanidade, as ruas de Campo Maior podem voltar a florir no final de Agosto.
Com “todo o tipo de flores. Papoilas, malmequeres, cravos, tulipas, margaridas, rosas, jarros...”
Lurdes Cal acrescenta que a evolução das festas é marcada por uma melhoria na qualidade. “Cada ano são mais perfeitas. As últimas, para mim, foram as mais perfeitas de todas.”
A confeção das flores é feita maioritariamente por mulheres. Aos homens cabe a montagem das estruturas nas ruas.
Se a Associação das Festas do Povo, o município e o povo apostarem na realização do evento no próximo ano, o calendário não tem muito tempo de espera.
“Geralmente começamos a trabalhar por volta de Janeiro/Fevereiro. Depois levamos todo o ano a trabalhar aos serões. Juntamo-nos na casa de uma vizinha ou na que chamamos de Casa das Flores. Depois é a festa. Antes era em Setembro. Mas, nos últimos anos, por causa dos emigrantes, para também poderem assistir às festas da sua terra, fazemos entre o último fim de semana de Agosto e o primeiro de Setembro.”
A realização das Festas do Povo não tem uma periodicidade certa. Nos anos em que não se realiza tem lugar os jardins, foi num que falei com Lurdes Cal. “Coincidem com a feira de Santa Maria. É uma maneira de darmos mais vida à feira e a Campo Maior.”
A tradição e a transmissão do saber é oral, de geração em geração.
O primeiro passo para a sua salvaguarda foi dado em 2018, quando as Festas do Povo foram inscritas no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. Já nessa altura estava em preparação a candidatura à Unesco.
Campo Maior: as Festas do Povo e da Humanidade faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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