As estátuas em metal são do artista Rui Miragaia e inspiram-se no quadro de Columbano Bordalo Pinheiro intitulado O Drama de Inês de Castro.
O conjunto escultórico é uma iniciativa da Associação Cultural e Desportiva e dá corpo à lenda, à ira de D. Pedro I que mandou destruir a vila de Jarmelo porque um dos executantes do assassínio de D. Inês era daqui.
Pêro Coelho fugiu para Espanha mas foi devolvido ao reino e D. Pedro mandou extrair o seu coração quando foi condenado à morte. Percebe-se, assim, porque foi atribuído o cognome de “Cruel” a D. Pedro I. A razia da aldeia foi outra vingança.
Na verdade, além da antiga casa da Câmara, que agora funciona como museu, só há um edifício da Junta de Freguesia de Jarmelo de S. Pedro que é uma construção contemporânea, duas igrejas e a torre da vila com os sinos.
Das outras construções encontramos apenas ruínas. Pequenas muros e estruturas de pedra que se ocupam outra zona do monte. Mas não foi D. Pedro I que as mandou destruir.
Tiago Ramos é arqueólogo e membro da Junta de Freguesia acrescenta que a lenda, que foi registada no século XVIII, é o que diz mas as investigações revelam um caminho bem diferente. O próprio D. Pedro I confirmou a doação de Jarmelo a uma família.
Os vários trabalhos arqueológicos realizados no castro revelam vestígios anteriores de presença humana, antes da época medieval, mas também construções e alterações dos terrenos que vão, pelo menos, até ao século XVII, algumas centenas de anos depois da alegada destruição.
Serão outras as histórias que podem explicar o abandono do alto de Jarmelo. Tiago Ramos aponta , por exemplo, que “na época de D. Pedro e D. Fenando a vila teria sofrido consequências das guerras com Castela e da Peste Negra.
Nesta fase regista-se apenas uma situação de declínio. Jarmelo continua como sede de concelho até à Reforma Administrativa do século XIX em que é divido entre os concelhos de Pinhel e da Guarda. Nesta altura Jarmelo já não é habitado conforme testemunham as “memórias paroquiais” em meados do século XVIII que dizem Jarmelo ser uma vila deserta, só existindo o edifício da Câmara e duas casas que serviam de abrigo ao juiz do concelho.”
O nosso Romeu e Julieta, o drama do amor impossível, entrou no imaginário popular e, não muito longe, na Aldeia Velha, no Sabugal, também há uma lenda igual para explicar o abandono da povoação.
Em Jarmelo a lenda também se sobrepõe à história, embora, Tiago Ramos admita existir um fio da meada que começa na corte do Rei. “O donatário de Jarmelo, Afonso Sanches, era também senhor do castelo de Albuquerque , em Espanha, para onde foi desterrada D. Inês de forma a separar-se de D. Pedro.”
O amor e o ódio conjugam-se nesta lenda que atrai muitos visitantes a Jarmelo. “Por um lado, para verem o conjunto escultórico.
Por outro lado, pelo enquadramento paisagístico porque, como é muito alto, tem uma excelente visibilidade para o planalto beirão e consegue-se ver a Guarda, Espanha, Serra das Mesas, Pinhel, Castelo Rodrigo e Trancoso. A visibilidade é o que explica a colocação do marco geodésico de primeira ordem” que está mesmo ao lado da área repleta de ruínas.
Há um percurso pedestre que termina na antiga vila de Jarmelo. Nessas caminhadas, se for comunicado o interesse, podem organizar uma reconstituição histórica conforme assegura António Santos, presidente da Junta de Freguesia. Outra oportunidade é quando se realiza a Feira Concurso do Jarmelo onde são premiados os melhores exemplares de uma raça bovina autóctone - a Vaca Jarmelista.
Na descrição de António Santos, “é uma vaca amarela, corpulenta e com uma franja muito grande, o que a distingue das outras raças. A carne é mais suculenta, mais feita, mais tenra. É diferente”.
Todos os anos, no primeiro fim de semana de Junho, organizam uma feira concurso. O objetivo é incentivar a continuidade desta raça que já esteve quase extinta, apenas com nove exemplares, conseguiu recuperar para cerca de 300 adultos que, espera-se, consigam preservar a raça.
D. Pedro I, o Cruel, em Jarmelo faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
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