Deixaram um vasto património industrial que durante algum tempo esteve ao abandono mas que, de certa forma, acrescentou a beleza resultante da fragilidade e da decadência dos materiais.
Onde mais se tem essa sensação é na surpreendente Achada do Gamo. São antigas fábricas de enxofre para onde uma linha de caminho de ferro levava minério.
É um amplo espaço aberto onde se destacam duas torres que há alguns anos estão em ameaça de derrocada. Uma delas até tem suspenso um enorme pedaço de cimento.
Exercem sobre os visitantes um enorme fascínio e é frequente a visita de comunicação social internacional.
Apesar de não ser permitido, muita gente aproxima-se das torres e segue ao alto da encosta, próximo de uma chaminé de um forno onde se tem uma vista de conjunto.
Vê-se um lago artificial, algumas casas em ruína, escombros do caminho de ferro e o terreno está repleto de pedras.
No caminho de S. Domingos para a Achada do Gamo estão a ser construídos canais por onde seguem águas de cores intensas.
Resultam da intervenção ambiental que está a requalificar as escombreiras e as minas.
Na verdade, a corta da mina está coberta de água de cor azul metalizado. É uma enorme cratera na terra avermelhada.
A exploração mineira era a céu aberto e já existia desde os romanos que extraiam cobre e prata.
No passado recente, em mais um século de exploração, foram extraídos 25 milhões de toneladas de minério! A rede de galerias e poços chegou aos 420 metros de profundidade.
Na zona envolvente da mina estão várias construções. Uma delas, muito grande, com uma torre, era a central eléctrica. A torre quebrou e alberga um ninho de cegonha. Antes era muito mais alta. A central eléctrica foi a primeira a ser construída no Alentejo.
Algumas dezenas de metros ao lado restam paredes das oficinas e do cais onde era descarregado o minério. São estruturas fantasma, com paredes grossas e portadas largas que teimam em resistir ao vento e à chuva e são refúgio de aves e arbustos.
Partilham o cenário com o malacate nº6 que drenava as águas na mina. A estrutura metálica e de madeira mantém as duas rodas mas revela que já perdeu a força.
Em muitos lugares o terreno é árido, revolto em pedras avermelhadas. A vegetação rasteira alterna com pedaços de madeira, cimento, tijolos ou ferro.
Para os antigos mineiros a mina já diz pouco. Por exemplo, Joaquim Martins raramente lá vai, diz que já não tem nada para ver.
Conversei com ele junto à bonita igreja de S. Domingos onde se vê parte da mina, o seu local de trabalho durante 7 anos. Foi na fase final da extracção mineira. Como estava a encerrar ele e outros mineiros foram trabalhar para a Bélgica.
A mina faz parte da faixa ibérica de pirites, com uma extensão de 250 km, que vai da região de Alcácer do Sal, onde está a mina de Lousal, até Sevilha.
Na Mina de S. Domingos chegaram a trabalhar continuamente mais de mil pessoas.
A empresa britânica que durante mais de um século explorou as minas criou um conjunto de estruturas para a produção de apoio social que foi inovador nesta região.
Albufeiras, caminhos de ferro, um porto no Guadiana, em Pomarão, hospital, igreja, teatro e a aldeia de S. Domingos onde residia parte significativa da mão de obra das minas.
Além dos testemunhos das pessoas que trabalharam nas minas, outra forma de descobrir o património mineiro é visitar a aldeia. O bairro operário, o bairro e jardim dos ingleses, a igreja e também a Casa do Mineiro, um espaço museológico e centro de documentação.
A Casa do Mineiro é uma das primeiras estruturas do projecto de desenvolvimento que está a ser executado, conforme explica João Rolha, da Câmara de Mértola.
Uma das intervenções é a componente turística que visa valorizar não apenas o património edificado mas também o afectivo, a relação da comunidade com as minas e que importa preservar.
Para já, até à conclusão do projeto, a visitação pode ser feita através de várias estruturas de apoio como por exemplo a Rota do Minério que passa por 12 pontos de interesse. Há também a possibilidade de se fazerem visitas guiadas.
Nos dias de calor vá preparado para um mergulho na praia fluvial da Tapada Grande que aproveita a água de uma albufeira que abastecia a mina. É muito bonita e fica mesmo ao lado dos caminhos para a mina.
Se tiver tempo dê ainda um salto ao porto fluvial do Pomarão.
A estrutura metálica do porto mineiro é uma carcaça, são poucos visíveis os vestígios da linha férrea que transportava o minério desde a mina e não é este o elemento motivador. É a paisagem. A descida íngreme da estrada que nos leva a Espanha e que nos oferece uma vista magnifica da serra e da confluência do Guadiana com o rio Chança.
O fascínio das minas de São Domingos faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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