Soa um trovão, antevendo nova tempestade. Aqui em Rangiroa, à semelhança de todos os destinos tropicais, apenas o tempo muda rápido. Estou neste momento há 48 horas neste paraíso onde as horas não parecem passar e até a passagem de ano foi esquecida, ou não fossem estas ilhas do Pacífico das últimas a nível global a cruzar a linha para 2022.

Rangiroa, que significa “céu imenso”, é o espelho disso mesmo. Um gigantesco atol no mais remoto dos lugares à face da terra, desenhando um anel tão vasto que mesmo esforçando a linha do horizonte, não se observa o extremo oposto. Estende-se ao longo de 1446Kms2 (o dobro da ilha de São Miguel), compreendendo cerca de 240 ilhotas dispostas concentricamente e interrompidas por pequenas passagens, duas delas de maiores dimensões e que permitem os maiores fluxos de água e a “mudança das marés”. Conhecido como um dos melhores lugares do mundo para mergulho, em Tiputa é fácil observar tubarões (com destaque para os grandes tubarões-martelo), mantas-raias, tartarugas e uma enorme variedade de peixes de várias dimensões.

O último dia de 2021 arranca à velocidade de uma lancha que demorará cerca de uma hora a atravessar o atol até à “Lagon Bleu”, uma enorme lagoa dentro do próprio atol. De águas baixas faço as últimas dezenas de metros de pés na água, numa tentativa de não se deixar qualquer dano nos corais. Na linha de visão, centenas de palmeiras esvoaçam ao vento, debruçadas sobre as areias brancas, maravilhando-nos, qual postal. Cruzo uma ilhota e outra, sendo impossível de descrever o que os olhos vêem, agradecida pela máquina fotográfica que trago em punho e que me permite registar tantos cenários maravilhosos.

É tempo de apreciar as paisagem mas também as dezenas de tubarões de ponta negra que nadam tranquilamente por estas águas, muitos deles tão próximos de nós como a escassos metros ou mesmo centímetros de distância, ignorando a presença humana que não os parece incomodar. Ajeitam-se as máscaras sobre os olhos e narizes e contemplo o fundo do mar, repleto de corais e peixes de várias cores e feitios. Um clamar ao longe assinala que são horas de almoço. Sob uma cabana edificada com folhas de palmeira, prepara-se à sombra peixe, carne e pão de coco, uma das especialidades da Polinésia.

São horas de regressar, não sem antes fazer uma pequena paragem em Tiputa, onde o estreito forma ondas de maiores dimensões que intimidam os corações mais fracos. Como prometido, os golfinhos vêm apaziguar os medos: primeiro um, depois quatro, desafiam o barco dando piruetas, nadando sob as ondas e atravessando o casco da embarcação.

Regresso cansada ao hotel, o corpo a pedir descanso depois do duche, a pele torrada do sol a encostar sobre os lençóis. Passa das 22h30 quando regresso ao lobby para uma noite de reveillón que “já deu o que tinha a dar”.

O hotel é pequeno e não há muitos turistas, sendo que as famílias com filhos mais pequenos já se retiraram. Pelas 23h40 encerram-se as portas do restaurante com vista sobre o mar. Já não há música, nem haverá champagne, passas ou contagem decrescente. Começa mais uma chuvada tropical, intensa e a durar poucos minutos, enquanto meia dúzia de pessoas (sobretudo locais) se abrigam por debaixo do pontão de colmo à espera da meia noite. Finalmente, o fogo de artifício de um dos hotéis adjacentes ilumina os céus, assinalando a chegada de 2022 e, pela primeira vez, não peço qualquer desejo pois sei que a vida me deu tudo e ainda mais do que alguma vez poderia desejar.

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