Inflamada por grandes nomes da imprensa francesa, a polêmica durou muito anos, reflexo do eterno conflito entre amantes do antigo e do moderno, como já havia sido o caso de tantas outras obras, como o Centro Pompidou de Paris.
O debate envolveu todo o país. Michel Laclotte, diretor do Louvre entre 1987 e 1995, recorda o espanto de um taxista em Nice: "Mas que diabo estão a fazer com o Louvre?".
Primeiro ato: ampliar o Louvre
Tudo começou no dia 31 de julho de 1981, quando Jack Lang, o então novo ministro da Cultura, escreveu ao presidente François Mitterrand: "Há uma ideia potente: recriar o Grand Louvre e tornar o edifício todo em museu".
O Ministério das Finanças ocupava uma parte do museu. "É uma boa ideia, mas difícil de concretizar, como todas as boas ideias", respondeu Mitterrand.
"Achávamos que o poderoso ministério não iria aceitar mudar de lugar", disse Jack Lang à AFP.
"Mas o pátio Napoleão era um estacionamento horrível. O museu era prejudicado por não ter uma entrada central", acrescentou.
"Com Mitterrand, tínhamos a intenção de entrar em contato com Pei. O presidente admirava as suas obras nos Estados Unidos", completou.
Segundo ato: a polémica
Michel Laclotte "revive a cena" da descoberta do projeto de Pei, numa reunião. "Tinha uma grande maquete sobre a mesa. Depois, colocaram a pirâmide. Ficaram todos seduzidos", relata.
Quando o jornal "France Soir" publicou a maquete em 1984, houve uma "explosão" de críticas, que denunciavam, por exemplo, que o Louvre se iria transformar na "casa dos mortos" - nas palavras de um jornalista do "Le Monde".
Foi dito em tom de brincadeira que Mitterrand queria ser o primeiro "faraó" de França. Publicou-se também um livro contra a pirâmide - "Paris mystifié : La grande illusion du Grand Louvre" ("Paris mistificada. A grande ilusão do Grand Louvre", em tradução livre) -, escrito por três historiadores.
"Houve uma reunião no Eliseu em 1984: Mitterrand era muito prudente, mas concordava que devíamos seguir em frente", contou o arquiteto Michel Macary, um dos principais protagonistas do projeto.
"No meu escritório, em segredo, mostrei a maquete. Compareceram umas 50 personalidades, entre elas Catherine Deneuve, Pierre Bergé, Gérard Depardieu, Pierre Soulages, Ariane Mnouchkine, Patrice Chéreau, Serge Gainsbourg, Nathalie Sarraute...".
Mitterrand acompanhou as obras
Enquanto duraram as obras, colossais, "Mitterrand esteve envolvido. Foi várias vezes visitá-las", segundo Lang.
Emile Biasini, presidente do estabelecimento público do Louvre de 1982 a 1988, "reuniu os conservadores do museu, chegando a uma espécie de compromisso de Yalta: nós vamos preservar os vossos departamentos, se nos apoiarem" - contou o ex-ministro socialista.
Jacques Chirac, então presidente da câmara de Paris, estava furioso por ter tomado conhecimento do projeto através da imprensa.
"Chirac ficou furioso, mas nunca criticou o projeto. 'Não me choca em nada', dizia", segundo Macary.
O futuro presidente pôs, porém, uma condição: que as pessoas tivessem a oportunidade de imaginar como seria a obra já construída. "Foram estendidos três cabos. Vieram milhares de parisienses", em maio de 1985.
"Imaginavam que íamos instalar a pirâmide de Quéops", lembra Jack Lang com um sorriso.
Alguns "não baixaram a guarda" até ao fim. Entre eles, o conservador "Le Figaro", que, com o tempo, acabou por pedir para celebrar o aniversário do jornal na pirâmide, comenta o ex-ministro.
Para o atual presidente do Louvre, Jean-Luc Martínez, trata-se do "único museu do mundo, cuja entrada é uma obra de arte". A pirâmide - completa - tornou-se símbolo de um estabelecimento "que olha decididamente para o futuro".
Fonte: AFP
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