Com apenas 18 anos, Beatriz Soares pretende sair da sua zona de conforto e descobrir a sua rota, com um toque de liberdade e aventura. Para isso, realizou três intercâmbios na Europa com o projeto Erasmus+, seguindo depois para uma grande viagem no Sudeste Asiático. No relato de hoje, Beatriz partilha experiência que teve na Roménia.

Isolada a cerca de cinco horas e meia de Bucareste, Godinești é o tipo de lugar onde o tempo parece ter parado. As pessoas deslocavam-se em carroças, as vacas caminhavam lado a lado com os pedestres nas estradas, e o silêncio da montanha era apenas interrompido pelos sons da natureza. Este cenário seria o pano de fundo perfeito para um projeto com o tema Young, Healthy and Free.

Este projeto, focado em práticas saudáveis no dia a dia, veio com uma mudança de ritmo que eu não esperava. Godinești tinha apenas duas ruas no total, não havia sequer uma pequena loja para comprar produtos básicos, e o frio cortante das montanhas limitava as opções de lazer. Após a energia vibrante e constante da Sérvia, confesso que tive um choque de adaptação. Aprendi a abrandar e a aproveitar o momento, algo que me foi difícil nos primeiros dias.

As nossas atividades incluíam workshops sobre nutrição, mindfulness e, especialmente, muito exercício físico. Mesmo muito. Desde treinos intensos com uma personal trainer (que nos deixavam todos sem conseguir subir as escadas até aos quartos) até passeios pela vila e caminhadas pela floresta. Um dos momentos mais divertidos foi um passeio de bicicleta pela vila depois de almoço, onde, por falta de bicicletas suficientes, tivemos que ir dois em cada. No regresso, fomos inesperadamente escoltados por duas vacas, cada uma de um pasto diferente, que nos deixaram mesmo à porta de casa.

Com participantes de quatro países – Lituânia, Polónia, Roménia e Portugal – e representantes de outras origens como Cazaquistão, Azerbaijão, Bangladesh e Brasil, este foi, de longe, o projeto mais diverso. Apesar de as conexões não terem sido tão profundas como as da Sérvia, também fiz amizades especiais com as quais ainda mantenho contacto.

Outro destaque foi a nossa cozinheira, Dona Maria, que preparava todas as refeições com um carinho imenso e nos transmitia muito amor através das suas ações, mesmo sem comunicar por falar ou entender inglês. À noite, as atividades culturais juntavam-nos ainda mais, com danças, jogos e tradições de cada país representado. Essas noites trouxeram momentos de partilha genuína que aqueceram os dias frios da montanha.

O que aprendi em Godinești? Além de dicas práticas para uma alimentação melhor e formas de incorporar o exercício físico de maneira realista no dia a dia, esta experiência ensinou-me algo ainda mais valioso: abrandar. Aprendi que não precisamos de muito para viver momentos marcantes, que há uma beleza em usar e aproveitar o que temos à disposição. Godinești ensinou-me a valorizar o silêncio, a simplicidade e a autenticidade de uma vida mais calma.

Podem seguir as viagens de Beatriz através do Instagram @pela.rotadovento