
Com apenas 18 anos, Beatriz Soares pretende sair da sua zona de conforto e descobrir a sua rota, com um toque de liberdade e aventura. Para isso, realizou três intercâmbios na Europa com o projeto Erasmus+, seguindo depois para uma grande viagem no Sudeste Asiático. Partilhamos o relato na primeira pessoa da experiência que viveu na Sérvia.
Não poderia haver uma forma melhor de começar o meu gap year do que com os projetos Erasmus+. Sempre soube que o momento de sair da zona de conforto ia chegar, mas, ao mesmo tempo, como alguém com 18 anos que nunca viajou sozinha queria que fosse de uma maneira que me permitisse crescer de forma natural, sem pressa, e com a possibilidade de aprender ao longo do caminho. Erasmus+ foi exatamente isso: a oportunidade perfeita para explorar o desconhecido, mas com o apoio de uma rede incrível de pessoas e experiências que me permitiram ir além dos meus limites, de forma confortável e segura.
A minha jornada começou na Sérvia, num pequeno cantinho chamado Brzi Brod, a apenas 15 minutos do centro de Niš. Este foi o cenário do meu primeiro projeto Erasmus+, que tinha como foco principal a conexão entre motivação e saúde mental, além de nos ensinar a lidar com desafios pessoais. Foram dez dias intensos (dois deles dedicados à viagem), mas também profundamente transformadores.
O meu dia a dia baseava-se em workshops que promoviam o autoconhecimento, a reflexão e o trabalho em equipa. À noite, as interações culturais ganhavam vida com as chamadas “noites interculturais”, onde cada país partilhava a sua gastronomia, música e tradições. Além disso, explorámos a cidade, organizámos um evento comunitário e tivemos a oportunidade de viver um pouco da cultura local de uma forma que jamais seria possível numa viagem comum.
Havia participantes de seis países: Portugal, Croácia, Sérvia, Bulgária, Turquia e Grécia. Apesar de todos termos vindo de contextos diferentes, rapidamente formámos laços que continuam vivos até hoje. Apesar de ter sido há pouco tempo, alguns amigos já me visitaram em Portugal, e tenho novas viagens planeadas para os reencontrar.
No entanto, nem tudo foi fácil. O meu maior desafio foi viver 24/7 com pessoas que, inicialmente, eram completas desconhecidas. Estávamos sempre juntos, seja a comer, a trabalhar ou até mesmo a descansar. Isto obrigou-me a sair da minha bolha de conforto, já que por norma, valorizo e preciso dos momentos a sós.
Além disso, houve a barreira linguística com os habitantes locais, muitos dos quais não falavam inglês. Também senti a diferença cultural: na Sérvia, as pessoas são mais reservadas. Foi estranho não ouvir “bom dia” ou “olá” nas ruas, algo tão natural para mim, que venho de um país caloroso e comunicativo.
Depois de partilhar estas dificuldades com os meus amigos do projeto, eles disseram-me que talvez eu pudesse ser a mudança que queriam ver. Decidi tentar. Comecei a cumprimentar todos os que passavam por mim: com um sorriso, um aceno, um “olá”. Aos poucos, notei que as pessoas começaram a reagir. No mercado, já me recebiam com um “bom dia” e um sorriso. Nos quiosques, perguntavam como estava. Não estava apenas a vivenciar a comunidade de Brzi Brod; estava a contribuir para ela de alguma forma.
Foi assim que vivi uma das interações mais especiais da minha vida. Um dia, enquanto explorava as ruelas do vilarejo com alguns amigos, cumprimentei um senhor idoso que passava. Para minha surpresa, ele parou e começou a conversar connosco, apesar de não falarmos a mesma língua. Tive a sorte de estar com duas sérvias que traduziram toda a conversa. Ele contou-nos sobre a sua vida, os filhos e até sobre a casa de dois andares que ele e a esposa, já com 80 anos, estavam a construir para que o filho mais velho voltasse de Amesterdão.
Quando nos despedimos, o senhor insistiu: “Vocês estiveram este tempo todo à porta da casa que estou a construir para o meu filho e acham que não a quero mostrar?” Ele chamou a esposa, e juntos deram-nos uma visita guiada à casa.
No final, ofereceram-nos chá e biscoitos, tiraram uma foto connosco e enviaram-na à família, dizendo: “Estes são os meus novos netos emprestados.” Esse momento, desencadeado por um simples “olá”, ensinou-me que os pequenos gestos têm um impacto muito maior do que imaginamos.
A Sérvia não só me desafiou, como também me preparou para tudo o que estava por vir no meu gap year. Quando estava a preparar-me para esta viagem, confesso que tinha medo. Estava a viajar sozinha para um país que nunca tinha visitado, para passar dias com pessoas desconhecidas. Mas este projeto mostrou-me o quanto o mundo é bonito, o quanto há para conhecer e o quanto as pessoas podem ser generosas e acolhedoras. Aprendi a não ter medo de arriscar, de dizer “sim” às oportunidades e de, às vezes, simplesmente dizer “olá”.
Podem seguir as viagens de Beatriz através do Instagram @pela.rotadovento
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