Por um lado não podia estar mais errada mas por outro estava completamente certa.

À superfície, Tel Aviv, por exemplo, é uma cidade muito cosmopolita, com um ambiente animado, bons restaurantes e praia. Quando se está a almoçar nas docas e a ver famílias a passearem e a divertirem-se com os filhos é fácil de esquecer as lutas que ocorrem neste território há milhares de anos.

Mas eu não estava ali para discutir política ou tomar uma posição, até porque acredito que não há inocentes nesta história. Todos são culpados. Quando a regra é olho por olho, dente por dente, todas as mãos acabam manchadas de sangue.

Sou cristã, cresci a ouvir falar destes lugares, por isso, eu estava ali para ver as ruínas bíblicas e locais e cidades que sempre sonhara visitar. Mas também para aprender e educar-me sobre as outras religiões - não apenas a minha. Queria visitar os locais sagrados para cristãos, judeus e muçulmanos, ver museus, percorrer os passos de Jesus Cristo e visitar os bairros judaicos e os mercados árabes.

Queria (tentar) perceber o que nos une e não o que nos separa.

Em certa medida sentia que, especificamente Jerusalém, era uma espécie de modelo do resto do Mundo. Um micro cosmos, ou um resumo do que tem sido a história da humanidade há séculos.

A Páscoa nesta cidade é uma experiência e tanto. É como se Jerusalém fosse o beco sem saída do planeta. Toda a gente vem ali ter. Consegues encontrar todas as combinação possíveis de olhos, de cabelos e de cor de pele. Vês todos os trajes e estilos de vestir. Vês do mais escuro dos africanos ao mais pálido europeu do norte e todas as tonalidades intermédias.

Parece que estão todos ali para comungar juntos…

Porquê então - perguntava-me eu, cercada pela multidão - é que esta Terra Santa que viu nascer as três maiores religiões do mundo não me fazia sentir mais “perto de Deus” ou experimentar “um sentimento profundo de paz”, como por diversas vezes ouvi de pessoas que descreviam a sua experiência em Jerusalém.

O que a Páscoa em Jerusalém nos pode ensinar
créditos: The Travellight World

Depois de alguma reflexão eu cheguei a uma conclusão. O problema, evidentemente, era meu. Não é que eu não acreditasse em Deus (qualquer que seja a forma que ele toma), o problema era que eu não acreditava na humanidade.

Eu encaro o ser humano com algum cinismo, confesso. Acho que somos muito imperfeitos (eu incluída, é claro). Quantos de nós conhecem pessoas que mostraram ao mundo uma aparência de santidade quando na verdade são as primeiras a dizer mal do vizinho ou a espalhar rumores falsos sobre a sua vida.

Por alguma razão o ser humano, com honrosas exceções, tem dificuldade de ser naturalmente solidário e compreensivo, e mais: desconfia sempre do que é diferente de si, por isso, procura a segurança do grupo. Se todos falam igual, pensam igual e vestem igual, deve ser bom, deve ser seguro.

A Igreja do Santo Sepulcro é um bom exemplo do que acabei de dizer. Esta Catedral enorme - lugar onde se acredita que Jesus Cristo foi sepultado e ressuscitou - mais não é do que uma manta de retalhos repartida entre várias igrejas.

Desde o tempo dos cruzados, os recintos e o edifício da Basílica do Santo Sepulcro tornaram-se propriedade das três maiores denominações - os grego-ortodoxos, os arménio-ortodoxos e os católicos romanos. Outras comunidades como os copta-ortodoxos egípcios, os etíope-ortodoxos e os sírio-ortodoxos têm apenas direito a pequenas propriedades dentro ou a pouca distância do edifício.

Ora, pergunto eu, a casa de Deus não devia ser de todos por igual? Eu não compreendo isto…

Conheci em Israel uma rapariga que era árabe-cristã. Poucos sabem que eles existem. São uma minoria e sofrem preconceito de todos os lados: os cristão e judeus vêem-nos como muçulmanos e os árabes vêem-nos como cristãos. Não fazem parte dos grupos principais, por isso, são marginalizados e postos de parte por todos.

Salvaguardando as devidas proporções, isto não é muito diferente de um garoto na escola sofrer bullying porque se veste de maneira diferente e ouve um tipo de música que é estranha para o resto da turma.

A Páscoa em Jerusalém ensinou-me que tenho muito que trabalhar para melhorar como ser humano e para acreditar mais no outro que está ao meu lado. É que a humanidade ainda tem um longo caminho a percorrer e é preciso que andemos todos para a frente e não para trás como recentemente parece que está a acontecer.

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Artigo originalmente publicado no blogue The Travellight World