Hoje em dia o aroma floral não é tão perceptível, mas o rio Perfume mantém-se como um dos marcos turísticos mais populares da cidade de Hue.

Atravessei-o numa bonita manhã, de céu azul e temperatura agradável, com uma brisa suave a acariciar-me a cara. O meu destino final era a cidade de Hue, Património Mundial da UNESCO.

Rio Perfume
Rio Perfume créditos: The Travellight World

O barco onde fiz a travessia - um tradicional barco Vietnamita, designado barco dragão - tem origem chinesa que remonta há mais de 2.000 anos.

Estes barcos, originalmente, eram usados para transportar a família imperial e eram construídos para se assemelharem a um dragão, com a cabeça do mítico ser esculpida na parte da frente do barco e a sua cauda esculpida na parte de trás.

Atualmente, estes barcos transportam turistas e servem igualmente de habitação para dezenas de famílias que ganham o seu sustento no rio. A simpática família que me transportou rio acima vendia bonitos cartões com figuras tradicionais e paisagens vietnamitas recortadas à mão.

Barcos dragão
Barcos dragão créditos: The Travellight World

Por um século e meio, Hue foi a capital real do Vietname e lar da dinastia Nguyen, que se estabeleceu na cidade no início do século XIX e aqui viveu, governou e foi subsequentemente enterrada.

Os antigos governantes do Vietname passavam tanto tempo a preparar-se para a morte que a maioria dos túmulos reais tinha uma dupla função: antes do monarca “montar as costas do dragão” - o eufemismo para a morte real - ele usava o futuro túmulo ​​como casa de campo.

Parece um conceito estranho, mas os “túmulos” eram verdadeiros retiros campestres, cuidadosamente planeados para receber a família real tanto em vida como na morte.

Barcos dragão
Barcos dragão créditos: The Travellight World

O rio serpenteia através de Hue, revelando maravilhas a cada curva. Um palácio e oito túmulos reais relativamente intactos estão espalhados ao longo do vale do rio Perfume e das colinas baixas em redor. Estiveram escondidos durante anos por votos de sigilo, mas agora estão abertos ao público e podem facilmente ser visitados. Os três mais bem conservados são os túmulos de Tu Duc, Minh Mang e Khai Dinh.

O barco deixou-me na margem e eu segui por um caminho ladeado por bambu até encontrar o primeiro túmulo: o Túmulo de Tu Duc. Não me pareceu de todo um túmulo, mas antes um velho palácio. Cheirava a poeira e madeira húmida, mas ainda assim era impressionante.

Túmulo de Tu Duc
Túmulo de Tu Duc créditos: The Travellight World

Passeando por ali, fica-se com uma noção do que era a vida deste imperador. Durante os dias, ele pescava no lago ou ia caçar a uma ilha minúscula, que os seus serviçais abasteciam com cervos mansos. Depois retirava-se para o pavilhão Xung Khiem - o Palácio para Admirar a Lua e Declamar a Poesia - onde as suas concubinas faziam-lhe serenatas e o imperador escrevia poesia (Tu Duc escreveu mais de 4.000 poemas).

Destaca-se também nestas ruínas um antigo teatro, cujo único assento era uma enorme cadeira real. Disseram-me que Tu Duc passava as noites a assistir à representação de peças que chegavam a ter 1.000 episódios (eram o equivalente às novelas atuais).

A tumba, em si, está um pouco mais longe, no lugar onde soldados de pedra parecem aguardar instruções do falecido rei. Mas dizem-me que na praça quadrada, aberta para o céu e cercada por ciprestes, não está enterrado Tu Duc. A verdadeira localização do túmulo não é conhecida, apenas se sabe que ele está sob as pedras do pátio, escondido em algum lugar num vasto labirinto de túneis.

Mausoléu de Tu Duc
Mausoléu de Tu Duc créditos: The Travellight World

Mais adiante fica o mausoléu do maior dos governantes Nguyen: Minh Mang, o avô de Tu Duc. Minh Mang era apaixonado por arquitetura e o seu túmulo é considerado um dos edifícios mais interessantes do Vietname.

Rodeado por belos jardins e lagos, é um lugar que dá gosto visitar. As salas frescas dos templos proporcionaram um agradável refúgio ao calor do meio-dia.

Minh Mang levou mais de quatorze anos para encontrar o local ideal para o seu mausoléu e foram precisos dez mil operários e três anos para construí-lo. Mas valeu a pena, pois este mausoléu de influência chinesa é magnífico com os seus lagos, jardins e pavilhões vermelhos.

Mausoléu de Minh Mang
Mausoléu de Minh Mang créditos: The Travellight World

A norte do terreno, Minh Mang está enterrado dentro de um pequeno monte cercado por um pitoresco lago em forma de lua crescente.

No topo de uma colina fica a tumba de Khai Dinh. Para alcançar este mausoléu tem de se subir mais de cem degraus, passando por terraços onde guardas de pedra parecem condenados a ficar eternamente alerta.

A vista do topo é linda e vale a subida. Aqui, há apenas uma estrutura principal - um grande templo - que ostenta uma fusão desenfreada de estilos vietnamitas, europeus e chineses. O interior está repleto de uma miscelânea de estatuetas, dragões e minúsculos mosaicos de porcelana e vidro. No centro fica uma estátua de bronze em tamanho natural do Imperador Khai Dinh.

Tumba de Khai Dinh
Tumba de Khai Dinh créditos: The Travellight World

De uma perspetiva arquitetónica, cada um dos túmulos de Hue são a expressão única da personalidade dos monarcas que os mandaram construir e refletem as suas tendências e gostos pessoais.

A minha viagem continuou pelo rio Perfume, com uma pequena paragem no imponente Thien Mu Pagoda, antes de finalmente chegar à aguardada Cidade Imperial de Hue.

Cidade Imperial de Hue
Cidade Imperial de Hue créditos: The Travellight World

A Cidade Imperial de Hue é uma fortaleza murada e um palácio, idealizada como uma cópia da Cidade Proibida dos imperadores chineses em Pequim. Ela integra a Cidade Púrpura Proibida e o Museu Real de Antiguidades.

O bombardeamento norte-americano de 1968, em resposta à tomada de Hue pelos comunistas, arrasou a maior parte da cidade. Entre os poucos edifícios que sobreviveram contam-se o Templo Thai Hoa, o Templo Can Thanh, o Mieu e o Hieu Lam Cac.

Este é um passeio inesquecível que recomendo a todos que querem conhecer melhor a história e a herança cultural do Vietname.

Sigam as minhas aventuras mais recentes no Instagram e no Facebook 

Artigo originalmente publicado no blogue The Travellight World