Os Inesperados da viagem são as crónicas da Margarida Coelho, uma nómada a viajar pelo mundo que acumula histórias e ensinamentos do que parece uma travessia infinita no seu plano para ficar a conhecer 196 países.
Sendo eu viajante a tempo inteiro e, de acordo com o que acredito que faz sentido em viagem, costumo fazer voluntariado pelos países que visito, através da plataforma Worldpackers.
Os voluntariados podem variar muito entre si e ser realizados em sítios tão diferentes quanto hostels, abrigos de animais, comunidades, quintas, escolas, entre outros. No Nepal, candidatei-me a um voluntariado de permacultura. Nunca tinha experimentado e era uma forma não só de aprender, como de ajudar uma família nepalesa, ao viver com eles.
Foi nesse voluntariado que conheci outros dois voluntários e, rapidamente, partilhamos a paixão por viagens.
O meu plano inicial era, depois do Nepal, rumar ao Japão. Mas como não temos total controlo da nossa vida, aceitei o desafio de viajar com dois novos amigos.
A logística de viajar acompanhada é completamente diferente. Dividir tuk tuk, partilhar refeições, dividir quarto, apanhar boleia de locais, partilhar ideias, trabalhar em conjunto ou simplesmente passar horas em cafés a ver como os locais vivem.
Depois de Kathmandu, onde nos conhecemos, seguimos para Chitwan, lugar famoso na rota dos mochileiros. Eles, que o já tinham na sua rota e que queriam passar por lá, explicavam-me que podíamos ver elefantes e rinocerontes na rua. Seguimos para lá de autocarro e apercebi-me que o país dos Himalaias não tem assim tão boas acessibilidades de estradas. O caminho pareceu-me perigoso em alguns pontos, pelos penhascos e ruas estreitas que apresentava.
Chegamos e no primeiro dia, ao pôr do sol, vimos cerca de 10 elefantes a aproximarem-se do rio para beber água e tomar banho. Foi mágico. Um pôr do sol alaranjado que fazia lembrar os que vemos em África.
Naquele primeiro contacto com aqueles animais não conseguimos ver os maus-tratos a que são sujeitos. Seguindo-os pela rua, fomos ao encontro do seu abrigo e aí pudemos assistir às miseráveis condições em que vivem. Três patas acorrentadas, bem como o pescoço. Os animais que vimos, e que pareciam tão livres, são totalmente controlados e pouco alimentados pelo seus mahouts (nome dado a um treinador ou detentor de elefantes). No Nepal, estes animais são utilizados como força de trabalho na agricultura ou são explorados para fins turísticos.
No dia seguinte, e como já vem sendo habitual se viajamos com consciência de nos abrirmos à cultura local, fomos tomar o pequeno-almoço à casa de uma estrangeira holandesa, Martina, que vive há 15 anos em Chitwan. Ela contou-nos como ajuda animais de rua e percebeu o nosso interesse pelo tema, até porque nos anunciamos como sendo vegetarianos.
Foi aí que que a viagem tomou contornos inesperados. Martina contou-nos que havia na localidade uma organização de resgate de elefantes que faz todas as tardes workshops gratuitos sobre o tema. Claro que fomos!
Não sei quantas horas passaram, mas os três estávamos apaixonados por aprender sobre elefantes. Alguns factos interessantes que aprendemos: “em média, morrem 15 pessoas por ano em ataques de elefantes em Chitwan”, “o elefante só se deita se tiver certeza que se consegue levantar, porque pode morrer esmagado pelo seu próprio peso” e “a sua tromba tem 40 mil músculos".
Depois do workshop, assistimos ao regresso à selva de dois elefantes que a ONG Stand Up 4 Elephants conseguiu resgatar. Era gigante a diferença: bem cuidados, alimentados e o visível contentamento na cara deles, comparativamente aos outros que tínhamos encontrado na rua.
No fim da visita, como líder de viagens, perguntei a um dos membros principais da ONG se seria possível levar um grupo até lá e, com isso, eliminaria a ida a um safari no Parque Nacional que já estava definida no meu itinerário. Disse-me "claro que sim", que seríamos bem-vindos, no entanto, para o operador turístico, que já tem um padrão de viagem, não foi assim tão fácil entender a troca. O Parque Nacional de Chitwan é uma das principais fontes de sustento da área e eles insistiram bastante para manter a visita.
Existe sempre uma forma de viajar mais sustentável, para além de ser mais informativa, praticamos o turismo consciente, ajudamos a divulgar uma ONG e ficamos com aquela memória para sempre, ao verdadeiro estilo dos inesperados da viagem.
Continuem a seguir as viagens da Margarida através do Instagram Os 51 Países
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