"Dos mascarillas e su viseira!", já ouvi isto várias vezes. No Peru as medidas de protecção contra a COVID-19 são apertadas, mas toda a gente as cumpre sem excepção. Efectivamente, não se vê um adulto sem uma máscara colocada, frequentemente duas sobrepostas - imposições de um decreto lei que está por todo o lado. Para circular de autocarro estas regras são ainda mais rígidas, tendo adicionalmente de usar uma viseira que se vende por dois soles (cerca de 49 cêntimos).
De Huachachina a Lima são quatro horas de autocarro, pelo preço de nove euros. Desta vez vou pela companhia Cruz del Sur, já minha conhecida de outras andanças. De 2018 para agora nota-se a necessidade de adaptação destas estruturas ao mundo digital, nomeadamente através da colocação de portas USB e até de ecrãs LCD por assento como se de um avião se tratasse.
Se há coisa de que não gosto na América do Sul são algumas das grandes cidades. À semelhança de Santiago do Chile ou La Paz, Lima parece ser mais uma delas - grande, caótica, para correr em vez de viver. Nada como a polida Buenos Aires ou a cidade maravilhosa do Rio de Janeiro.
O avião levanta voo e confirma o que se via do solo: um terreno completamente árido, montanhoso com alguns vales e planícies totalmente preenchidos por casas de tijolo. Não há zonas verdes. É somente triste e desolador.
À medida que o voo avança em direcção ao interior, a Floresta Amazónica vai ganhando forma. São milhares e milhares de quilómetros quadrados de um verde denso, puro e intocado. Onde há um espaço, há uma árvore, e o contraste com a cidade não poderia ser maior.
Este deslumbramento nunca durará tempo suficiente, pois demasiado cedo começo a aperceber-me que o homem já fez das suas também para estes lados. Lentamente começam a aparecer estradas, terrenos agrícolas aqui e ali, habitações e zonas devastadas, até ao ponto que isso é a regra e não a excepção. Atenção, estamos no meio da Amazónia, e o contraste é novamente tão grande e para pior que a desolação consegue ser superior à previamente sentida. Não deveria ser assim.
Aterro em Tarapoto e procuro uma forma de chegar a Yurimaguas. Tuk tuks circulam em todas as direcções, mas a minha viagem será num carro particular que não é um veículo qualquer - um carro todo "quitado" à melhor moda do tunning. Somos dois passageiros e as duas horas seguintes são feitas por 90 soles (cerca de 18€) à velocidade e intensidade da música que ecoa pelas colunas das aparelhagens topo de gama. Richard, de braços tatuados e cabelo apanhado, tem 29 anos e dedica-se às corridas todas as semanas, cerca de 800m numa estrada de Tarapoto fechada para o efeito com a conivência da própria polícia - "aqui todo es plata... dinero!".
Já é de noite quando chego a Yurimaguas, um mistura estranha de tuk tuks, algumas faces com traços orientais e, pelo menos, quatro lojas chinesas de consumo impulsivo nas proximidades de uma praça de estilo colonial espanhol. Não ficarei muito tempo, nem ficará a vontade. Amanhã seguem-se dois dias na selva.
- Se queres acompanhar esta e outras viagens, encontra-me no Instagram em @andreia.castro.dr ou no Facebook em Me across the World
- Para este destino faz sentido fazeres a Consulta do Viajante. Podes fazê-la comigo, online, enviando-me mensagem privada ou inscrevendo-te através do site www.consultadoviajanteonline.pt
Comentários