Reportagem: Steven Trask / AFP
Lavenia McGoon, de 70 anos, estava lá quando os túmulos ficaram submersos. Desde então, teme o dia em que as ondas chegarão à sua porta. Enquanto isso, empilha pneus sob os cocos na marginal, esperando que essa proteção improvisada lhe dê algum alívio.
É apenas uma questão de tempo até que a mudança climática e a elevação do nível das águas obriguem a que ela e a família tenham de fugir.
"Ninguém pode parar a água", diz à AFP.
Togoru é uma pequena localidade na costa sul da ilha de Viti Levu. Apelidada de "Big Nana" pelos vizinhos, Lavenia vive ali, às margens do oceano, há quase 60 anos. A pequena casa de madeira não tem eletricidade, nem água.
A idosa aponta na direção das ondas. "Tínhamos uma plantação ali mesmo", lembra. Mas a terra desapareceu. "Em 20 ou 30 anos perdemos quase 55 metros", lamentou.
Os cerca de 200 mortos enterrados em Togoru tiveram o seu sono eterno perturbado pelo oceano. McGoon conta que os restos mortais da maioria deles foram arrastados para longe dali.
"Big Nana" resiste e recusa ir embora, agarrando-se ao seu cantinho de paraíso. Mudar com esta idade deixaria-a doente de qualquer maneira, diz.
Um desafio colossal
Cercado pelas águas do Pacífico, o arquipélago de Fiji prepara-se para o dia em que a vida nas aldeias costeiras será impossível. O desafio é colossal.
O governo estima que mais de 600 municípios terão de ser evacuados e que 42 aldeias já estão gravemente ameaçadas. Mais de 70% dos 900.000 fijianos vivem a menos de cinco quilómetros da costa.
De acordo com a universidade australiana de Monash, as águas do Pacífico ocidental estão a subir entre duas a três vezes mais rápido do que a média. As pequenas nações próximas do nível do mar, como Kiribati, ou Tuvalu, podem tornar-se completamente inabitáveis em 30 anos.
A vila de Vunidogoloa, na ilha de Vanua Levu, instalou-se num terreno mais alto em 2014. Foi uma das primeiras a deslocar-se, devido à elevação das águas.
Já os 200 habitantes de Veivatuloa, a 40 quilómetros da capital Suva, buscam e testam todas as soluções possíveis.
O muro antissubmersão, que protege o povoado, resiste, enquanto os moradores pressionam o governo, regularmente, para reforçá-lo.
Sairusi Qaranivalu, um porta-voz local, acredita que pensar em mudar é um grande sofrimento para os fijianos. Para eles, o vínculo com a terra e com os seus antepassados faz parte dos costumes.
"É como desconstruir a nossa vida tradicional", enfatiza.
Mais dificuldades na pesca
Outro problema é que, à medida que o oceano se aproxima, os pescadores precisam ir cada vez mais longe para encontrar peixes.
Antes da elevação das águas, bastava percorrer alguns poucos metros, lembra Leona Nairuwai, um senhor de Veivatuloa.
“Mas agora precisa avançar pelo menos 1,6 km de barco para conseguir pescar. Há uma grande diferença”, relata.
Cerca de metade da população rural de Fiji sobrevive da pesca, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).
Abaitia Rosivulavula, guia local e pescador de subsistência, conta que ganha a vida a vender o que pesca em restaurantes de Pacific Harbour, um importante local turístico do arquipélago.
“Antes havia muitos peixes, mas não é mais assim”, diz à AFP.
De acordo com uma classificação do Índice de Conservação da Pesca Natural Ameaçada, Fiji ocupa a 12ª posição entre nações com a pesca mais ameaçada pela mudança climática entre 143 países.
Outras quatro nações do Pacífico — Micronésia, Ilhas Salomão, Vanuatu e Tonga — estão entre as dez primeiras.
De volta a Togoru, "Big Nana" lamenta que países pequenos, como o dela, estejam a pagar o preço por aqueles que se recusam a reduzir emissões.
"Só pensam em ganhar dinheiro. Nunca pensam nos outros, nos que vão sofrer", critica.
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