Tem sido um ano de muitas viagens e ainda vou a meio do ciclo 2022. E tenho a certeza que, neste último semestre, as viagens multiplicaram no Globo. Muitos sonhos de viajantes estão a voar literalmente, entre culturas e países. Entre regiões do seu próprio país.
Hoje não escrevo como ‘entrevistadora’, mas como a viajante desse Mundo que começa a parecer-me pequeno nas suas fronteiras. Partilho com os leitores e com os caminhantes de trilhas… uma terceira viagem ao Brasil, desta vez ao estado de Espírito Santo (ES). Visitei amigos que são mais do que família, eles próprios são Espírito Santo. São as pessoas que ‘fazem’ os lugares.
Percorri grandes regiões e ‘grandes momentos’, desde Guriri a Aracruz. Recomendo fortemente que voem até Vitória e mergulhem nas praias, nas cachoeiras, nas florestas e na magia hospitaleira de Espírito Santo. Tem tanto para oferecer e poucos o sabem descrever ou ‘ver’. O que destacar? Difícil se for essa a questão.
Fotografar o melhor pousar do sol
Quem não almeja fotografar o melhor pousar do sol? Então essa é uma das experiências que vai ter em três cores – rosa, azul e laranja – e de uma forma encantatória pois o pôr-do-sol doura (não dura!) por todo o estado (ES) de forma inigualável.
Depois das três cores, a réstia de sol fica a marinar em laranja, cobrindo todo o céu. Então uma das aventuras foi parar o carro e ficar a ‘escutar’ a natureza debaixo do céu pintado de laranja. Sobretudo estacionar perto das fazendas e dos eucaliptos alinhados em forma missal, enquanto o sol se ia pondo com os mugidos em todo o lado. A terra avermelhada a combinar, o calor imenso nesta zona do Brasil, a maresia mesmo ali perto das ‘fazendas’.
Para explorarem bem Espírito Santo, terão de ir mais de uma semana e alugar carro. Quem chegar ao aeroporto de Vitória antes de anoitecer, deve alugar um carro na Localiza. É a principal empresa de aluguer de carros de todo o país. Se alugar no aeroporto será melhor, mas também pode encontrar vários pontos “Localiza” em Espírito Santo. E é melhor por este motivo: de Vitória a Espírito Santo (fiquei em São Mateus) a viagem conta com quatro horas a conduzir. Mas, a meio caminho, pode parar para experienciar uma bebida fresca de cana de acúçar.
Ter cuidado com o trânsito que nem difere muito da agitação europeia. O combustível disparou no preço, neste país, mesmo comparando com o nosso. Todavia, continua a ser mais económico viajar de carro ali para visitar de uma ponta a outra. Só ter cuidado com a velocidade, pois têm muito controlo. Ter sempre os documentos da viatura e a carta de condução “à mão”. Há vários postos de fiscalização.
Quanto a preços de alimentação, esteja à vontade e absorva a gastronomia rica brasileira. Sobretudo se for este mês pois estão a celebrar a maior moqueca que poderá ver no Brasil todo. No mundo, aliás. Sobre este mês de Julho, quem estiver com Espírito Santo ‘no bolso de viagem’, não pode perder o circuito de forró em Itaúnas.
Os doces da Sra. Núbia
Ora e, ainda sobre gastronomia, sobretudo sobre doçaria à qual ficará rendido(a), nada melhor do que uma expert capixaba que tem mãos e alma de ouro. Nas palavras da boa amiga Núbia Zequineli ficamos a saber que, “Aqui as sobremesas são: muxa, cuscuz, cocadas, chocolates (em Via Velha) (…) muitos doces caseiros como de abóbora, mamão verde, jaca, jambo, coco. No sul do estado se faz a aletria, que é o doce de macarrão. Herança dos colonizadores europeus. Pois recebemos influencia italiana, pomerana, portuguesa, africana e indígena. (…) Temos os beijus molhados na folha de banana.” É de ficar, literalmente, com água na boca. E sabiam que esta boa amiga (é família!) confeciona vários doces como esses acima? Podem ter a melhor experiência de paladar adocicado com a Sra. Núbia. Ela confeciona também para venda.
Vamos continuar a tour em ES? Se é amante de cachoeiras, vá até à cachoeira do cravo onde ficará irradiado com a queda de água e o rio abundante. A metros dos seus olhos, encontrará uma senzala muito histórica. Uma história que, como costumo dizer, importa mais compreender do que fotografar. Respeitar. Se é “praiano” também está no sítio certo, ora todo o ‘capixaba’ (nome dado aos locais de ES) é praiano pois estão rodeados de praias. Sugiro a praia Urussuquara e a do Coqueiral. São Mateus não se resume à praia mais referida como Guriri (onde fiz o meu primeiro batismo como capixaba!).
Essas duas praias que coloco em maior destaque estão em regiões distintas e a algumas horas de distância (considerando viagem por terra). A primeira fica no sul de São Mateus e a segunda fica em Aracruz. Estando a optar pela segunda praia (com o raiar do sol maravilhoso, em múltiplas cores), por favor tem de ir conhecer a aldeia indígena Piraquê-Açu. Não é um ponto de visita qualquer, o seu exotismo deve ser percebido com respeito e sabedoria. Conduzi, com a devida permissão, uma entrevista ao Cacique (nomenclatura para o líder de comunidade indígena). Mesmo para visitar a aldeia temática têm de solicitar autorização. Ter os contactos diretos da aldeia é o ideal, daí que os próximos turistas ‘capixabas’ podem falar comigo via Instagram(IG) e eu auxilio nesta rota.
O que se aprende nesta aldeia e comunidade é mágico. E podem visitar várias partes desta aldeia, com guia. Deixo algumas imagens para poderem confirmar a veracidade deste momento de viagem em ES. Na verdade, têm uma galeria também no meu IG. As mais recentes fotos são de viagens como esta.
Num próximo artigo continuo a dar pistas e rotas desta viagem que, em si, tem múltiplas viagens que valem cada milha. Lá, em ES, encontrei um sol que parecia sangue no fim de cada dia. Sangue que alimenta a alma viajante. Encontrei mares que nem comparo com outros estados que conheço do Brasil. São mais brilhantes e puros.
Encontrei mar, rios, pessoas e um porto que são, por sua vez, um relógio de histórias onde ecoam também passos dos portugueses. Depois conto tudo bem sentido na palma da minha mão.
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