Para visitar a exposição "Paraísos naturistas" na cidade francesa de Marselha a roupa é opcional, embora seja necessário estar calçado, o que deixa os visitantes com mais idade atordoados.

"Achei que fosse uma exposição naturista!", lamenta Daniel, um visitante dececionado ao ter de calçar os seus sapatos para percorrer os corredores do Museu das Civilizações Europeias e Mediterrâneas (Mucem).

A instituição abre as suas portas aos nudistas, mas apenas uma vez por mês, segundo uma solicitação do museu para evitar problemas, afirmou Eric Stefanut, da Federação Francesa de Naturismo (FFN) e co-anfitrião desta inusitada visita guiada que reuniu 80 curiosos na passada terça-feira.

Visitante nudista em museu de Marselha
Visitante nudista em museu de Marselha Um naturista visita a exposição "Paradis naturistes" no museu Mucem, em Marselha, sudeste da França, em 20 de agosto de 2024 créditos: AFP/Christophe Simon

Após as explicações, os visitantes contemplam fotografias, desenhos, livros, filmes, revistas, pinturas e esculturas, material emprestado por museus como o Centro Pompidou em Paris, Louvre ou a Biblioteca Nacional Suíça em Berna.

"Hoje é o meu aniversário e procurávamos algo um pouco excepcional", conta à AFP Julie Guegnolle, de 38 anos, vestindo uma saia, acompanhada do marido Matthieu, de 37 anos, que está nu.

"Não é todo os dias que temos a oportunidade de andar nus num museu. Quando chegamos, estávamos um pouco perdidos, mas não é tão estranho", conta.

A exposição, aberta a visitas até 9 de dezembro, também recebe visitantes totalmente vestidos fora destes horários específicos.

"Local chave"

"Vimos a exposição no Instagram e queríamos dar uma espreitadela. Na Inglaterra não encontramos este tipo de lugar onde as pessoas ficam nuas, é muito frio", explicam os ingleses Kieren Parker-Hall, 28, e Xander Parry, 30.

Ambos caminham nus pela exposição, e ficam "fascinados" pelas "fotografias incríveis" de Christiane Lecocq, pioneira do naturismo francês que morreu aos 103 anos, em frente à sua cabana, mostrando o seu corpo marcado pela passagem do tempo.

Marselha historicamente é "um local chave para o naturismo", explica Bruno Saurez, presidente da associação naturista local, fundada em 2014, e co-anfitrião da mostra.

Perto deste importante porto, estão localizadas enseadas que se tornaram áreas naturais protegidas e de difícil acesso.

Visitante nudista em museu de Marselha
Visitante nudista em museu de Marselha créditos: AFP/Christophe Simon

No início do século XX, o abade Urbain Legré, responsável pelas crianças com tuberculose, propôs aos pais e aos superiores da sua ordem religiosa que as crianças fossem levadas para aquela zona para tomar banhos de sol e fazer exercícios ao ar livre.

"Foi o que se fez na Suíça, na Alemanha", onde o movimento naturista nasceu com o movimento higienista no século XIX, lembra o especialista.

"Estas crianças gostaram tanto desta experiência que foram criadas as primeiras associações naturistas na França: os Naturistas da Provença em 1930 e os Culturistas Livres da Provença em 1931", detalha Saurez.

Não há uma classificação internacional de destinos turísticos nudistas, as informações circulam informalmente entre os adeptos.

"Quando estamos nus é muito difícil ir para a guerra ou brigar com alguém", afirma Christelle Bouyoud, de 53 anos, que é adepta desta prática há uma década.

Esta foi a mensagem hedonista do cantor Philippe Katerine quando apareceu vestindo apenas uma tanga e pintado de azul na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, que gerou polémica mundial.