Mais de 500 objetos, entre eles diversas oferendas encontradas nas últimas décadas nas ruínas do grande Templo Mayor mexicano, serão expostos a partir de quarta-feira no museu Quai Branly de Paris.

Setenta e cinco por cento das peças desse tesouro arqueológico nunca foram expostas fora do México, e algumas serão vistas pela primeira vez em público, após quase meio século de escavações no coração da capital mexicana, ao lado da catedral.

"Mexica. Oferendas e deuses no Templo Mayor" apresenta "pela primeira vez na Europa" as últimas descobertas dos arqueólogos, segundo os representantes da exposição no Quai Branly, especializado em artes indígenas.

"Mexicano" e não "azteca", já que assim se identificavam os membros desse poderoso império, instalado no centro do México no século XIII e que viveu o seu momento de esplendor pouco antes da chegada dos conquistadores espanhóis, em 1519.

O Templo Mayor da cidade imperial, Tenochtitlán, foi destruído e os seus destroços enterrados para construir a capital da Nova Espanha, até ao seu redescobrimento em 1978.

"É um projeto arqueológico que continua a ser escavado de forma praticamente contínua desde 1978", explicou à imprensa Steve Bourget, um dos representantes da mostra e responsável pelas coleções do continente americano do museu.

Após um vídeo de introdução histórica, o visitante depara-se na entrada com um enorme cuauhxicalli ou vaso de pedra esculpido em forma de águia. O recipiente servia para recolher os corações e o sangue dos sacrificados no Templo.

Exposição em Paris
A estátua do deus mesoamericano da morte Tlalticpac créditos: AFP/Stephane de Sakutin

Sociedade guerreira e regida sob códigos religiosos estritos, os mexicanos adoravam uma constelação de deuses (da guerra, da chuva, da morte, da fertilidade, etc) que exigiam sacrifícios humanos e animais de forma constante.

A sala principal da exposição mostra as oferendas mais espetaculares, animais, humanos e objetos que foram sendo encontrados no local do Templo, como, por exemplo, o esqueleto de um lobo que após ser sacrificado, foi enterrado com adornos de ouro, como corresponde a um animal considerado guerreiro.

Ou um espetacular disco de seis divindades esculpido totalmente em turquesa, uma gema muito difícil de trabalhar, "tão dura como o aço", explica Bourget.

Também há crânios humanos, alguns com facas de sacrifício inseridas nas órbitas oculares ou no lugar do nariz.

Outros museus, como o da Basileia, também estão a contribuir com peças para a mostra, que ficará aberta até 8 de setembro.

Durante os dois primeiros meses, o público poderá contemplar excepcionalmente o original do Codex Borbonicus, preservado na Assembleia Nacional Francesa.

Este documento, que não pode sair da França, é um dos códigos mais valiosos para compreender como eram a vida quotidiana e as crenças dos mexicanos.