
A extensa investigação histórica e arqueológica, realizada desde 2011 no âmbito do projeto global de conservação, restauro e requalificação do monumento, trouxe à luz objetos que surpreenderam as equipas da Parques de Sintra, como cachimbos e peças de jogo. Peças que revelam comportamentos transgressores face aos rígidos estatutos da Ordem e que são o reflexo tanto da evolução do próprio modo de vida franciscano, como dos paradoxos inerentes à dimensão humana dos frades.
A dualidade presente nos espaços do Convento dos Capuchos e na vida da comunidade que o habitou é o mote deste núcleo museológico: o espírito e o corpo; o divino e o humano; o bem e o mal; a luz e a sombra; a observância e a transgressão. O conceito expositivo assenta, assim, na contradição entre o que dizem os austeros Estatutos da Província da Arrábida, que regiam a vida nesta casa conventual, e a realidade que os objetos exibidos deixam antever.
Apesar de os estatutos da Ordem referirem claramente a proibição de fumar, sabemos, agora, que possuíam, por exemplo, cachimbos em caulino, do século XVII, de proveniência holandesa. Peças de jogo, um prato de fazer a barba, louças de barro e faianças decoradas – como um jarro com a inscrição "Cintra" e um fragmento de uma tacinha onde se lê "Capuchos" – são outros objetos “proibidos” que permitem compreender que ao longo dos séculos, a comunidade foi deixando de ser tão restrita, por força da sua condição humana. Ao todo, a exposição inclui cerca de 70 peças, provenientes da investigação arqueológica e do acervo do Convento dos Capuchos, em reserva desde o ano 2000.
Escultura do “Senhor dos Passos” regressa à Capela da Paixão
As novidades no Convento dos Capuchos não ficam por aqui. A "imagem de vestir" ou "figura de roca" do “Senhor dos Passos”, em reserva desde 2006, está de volta à Capela da Paixão, após uma intervenção de restauro, que consistiu na remoção de repintes e no preenchimento de lacunas do suporte em madeira.
Trata-se de uma peça articulada representando Jesus Cristo a caminho do Calvário, cuja autoria se desconhece. A escultura é um testemunho das representações artísticas típicas do século XVIII, época profundamente marcada pelo fervor religioso. Recorrendo a detalhes realistas, a expressões emotivas e a uma narrativa cuidadosamente elaborada, evoca a Paixão de Cristo e o seu objetivo é proporcionar uma experiência espiritual envolvente. O seu regresso à Capela da Paixão permite uma melhor interpretação do espaço.

O Convento dos Capuchos ou Convento da Cortiça foi fundado em 1560 por D. Álvaro de Castro, conselheiro de Estado de D. Sebastião, com o nome de Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra. É notável pela extrema pobreza da sua construção, que materializa o ideal da Ordem de São Francisco de Assis, e pelo uso extensivo da cortiça na proteção e decoração dos seus pequenos espaços. O edifício funde-se com a natureza e incorpora na construção enormes fragas de granito.
Abandonado em 1834, com a extinção das ordens religiosas que o regime liberal determinou, foi adquirido pelo Conde de Penamacor e, mais tarde, por Francis Cook. Em 1949, tornou-se propriedade do Estado português.
Integrando a Paisagem Cultural de Sintra, classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade em 1995, o Convento dos Capuchos e a sua envolvente estão sob a gestão da Parques de Sintra desde 2000.
Em 2013, a empresa iniciou um complexo processo de conservação, restauro e requalificação deste monumento, que foi vencedor de um Prémio da União Europeia para o Património Cultural / Prémios Europa Nostra na categoria Conservação e Reutilização Adaptativa em 2022. Envolvendo uma equipa multidisciplinar, o projeto incidiu na recuperação do conjunto edificado, de todos os elementos construídos e decorativos e aposta na experiência da visita, potenciada por novas valências, como o novo núcleo museológico.
O Convento dos Capuchos está aberto todos os dias, entre a 9h00 e as 17h30 (último bilhete e última entrada às 17h00). O bilhete de entrada no monumento dá acesso a todos os espaços que o compõem, incluindo o novo núcleo museológico.
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