“Estávamos num beco sem saída devido à pandemia. Comecei a ver muitos estabelecimentos a recriarem, a apresentarem uma nova identidade, uma nova reinvenção dos seus produtos. Decidi que tínhamos de fazer o mesmo, pois se não resultasse, o ano e meio que estivemos abertos, não valia de nada”, contou Carlos Oliveira, de 46 anos, proprietário do restaurante Mercado Negro.
São centenas os clientes que alinham na fila do estabelecimento localizado na St. Clair Avenue West, para degustarem o doce tradicional português, que habitualmente é ali confecionado às sextas-feiras e aos sábados, das 17:00 às 22:00.
Devido à covid-19, o Mercado Negro fechou as suas portas no dia 15 de março, algo que o empresário caracteriza de uma altura complicada em que ficaram “sem direção” e com o futuro em “suspenso”.
No entanto, com a reabertura dos restaurantes para serviço de take-out, no dia 02 de junho, o estabelecimento voltou a abrir as portas ao público e decidiu inovar com a apresentação de uma nova variante do doce típico da região de Aveiro.
“Desde que sou mais novo, sempre disse que as tripas tinham de estar em Toronto. Decidimos todos, lançar a tripa à nossa maneira”, afirmou Guilherme Oliveira, de 21 anos, filho do empresário, confessando ser “um sonho que vem dos tempos de criança”.
Com algumas receitas na sua posse e após algumas consultas, com a modificação devido aos ingredientes, aproximaram-se do doce típico, chegando ao produto final, hoje procurado por centenas de clientes, das várias regiões de Portugal, mas não só, de outras comunidades.
“Hoje podemos observar várias nacionalidades que passam por cá, para provarem ao que chamam de crepe português, ou tentam mesmo utilizar o nome em português, a tripa de Aveiro, com alguma dificuldade lá conseguem pronunciar”, ressalvou Carlos Oliveira.
Para o empresário, além da vertente de recuperação financeira, esta foi uma prova de que “existem sempre soluções”, quando numa altura estavam a perder um pouco da “esperança na sua identidade”, as tripas mostraram que “é possível ultrapassar os momentos menos positivos”.
Orgulhoso nas suas raízes e na cultura portuguesa, Carlos Oliveira destacou ainda qualidade de outros produtos portugueses, enaltecendo a marca Portugal pois “o que é nacional é bom”.
As tripas à moda de Aveiro, confecionadas às sextas-feiras e sábados, no restaurante Mercado Negro, têm o custo de entre quatro a seis dólares canadianos (2,55 a 3,83 euros), dependentemente do tipo, simples, com chocolate ou com ovos-moles.
A aposta de doces tradicionais não fica por aqui, a partir de agosto, aos domingos, entre as 17:00 e as 20:30, o empresário vai organizar uma matiné do imigrante, onde poderão ser degustados doces típicos como as bolas de Berlim, os pasteis de Tentúgal ou as farturas.
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