O Mosteiro é um edifício enorme com um património fabuloso e destaca-se no centro da vila. Do seu legado temos uma igreja rica em detalhes, o interior do Mosteiro com uma valiosa coleção de arte sacra e, entre muitos outros legados, destaca-se a doçaria.
"Comercializamos, de momento, sete doces conventuais. O pão de S. Bernardo, morcelas doces, castanhas doces, roscas de amêndoa, charuto de amêndoa, manjar de língua e as barrigas de freira” refere Jorge Bastos.
Pertence à última geração da família que tomou conta do negócio. “É familiar e tem a particularidade de nunca ter sofrido qualquer interrupção. Desde a última freira até ao momento o processo foi permanente. Isto, a meu ver, é o grande valor desta doçaria”.
A história é comum à de outros mosteiros e conventos, após a declaração da extinção das ordens religiosas em 1835. O declínio e o fechar de portas dos conventos permitiu dar a conhecer os segredos e um deles era a doçaria. Os testemunhos foram transmitidos pelas últimas freiras a familiares ou amigos.
No caso de Arouca, foi uma criada e afilhada de uma das freiras.
Está retratada no corredor da Casa dos Doces. É uma das quatro fotografias e que “correspondem a duas gerações. A afilhada das últimas freiras, que é tia avó do meu pai. Ela depois teve a ajuda de uma das filhas e duas sobrinhas afilhadas. Uma delas é a minha avó.”
Como a produção nunca foi suspensa, Jorge Bastos garante que preservam o legado conventual – “a produção é literalmente a mesma e muito artesanal. Costumo dizer que este tipo de doçaria tem um grande valor por isso mesmo, pelas técnicas de produção que lhes conferem uma textura bastante distinta em relação a outros produtos.”
A principal alteração tem a ver com o ponto de venda que, recentemente, passou a ser mesmo em frente do Mosteiro. Foi há 4 anos, quando da passagem do negócio do pai para Jorge Bastos. No tempo da avó, a doçaria era confecionada em casa. “A minha avó vendia à porta de casa. Isto era muito comum neste tipo de negócio.”
Para manter a coesão um dos antepassados contou parte do segredo a uma sobrinha e o restante a outra. Isto ajudou a que ainda hoje sejam os únicos detentores do segredo em Arouca.
Apesar de cada local onde se reivindica o legado da doçaria conventual afirmar que preserva o segredo, encontramos em várias partes do país os doces com o mesmo nome. Jorge Bastos diz que essa é a única semelhança.
A doçaria é muito diferente. Distingue-se muito em termos produtivos, até pela necessidade de conservação. Em regiões mais quentes, por exemplo no Algarve, a predominância é do açúcar para conservar, “o ovo precisa dessa proteção”.
Depois, cada zona tem a sua doçaria. Em alguns sítios, a castanha doce não tem castanha, é à base de ovo. O mesmo se passa com a barrigas de freiras com ingredientes que variam de região para região.
Casa dos Doces Conventuais de Arouca faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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