Por: Paulo Silva

A Ruta Via de La Plata é uma antiga estrada romana, que não tem ligação ao comércio desse metal precioso, mas serviu como canal de comunicação onde circulavam as mais diversas mercadorias e tropas entre Gijon e Sevilha.

Trata-se de uma via utilizada ao longo dos séculos e ainda hoje desempenha um papel de extrema importância na rede de comunicações da Península Ibérica.

Tratando-se de uma rota histórica, tem todos os atrativos para um passeio do “A Rolar Pelo Asfalto” pois, durante este percurso temos, gastronomia, grandes contrastes paisagísticos, património e diversidade cultural, para além de um asfalto adequado a “rolar”.

A duração que se aconselha para esta viagem depende muito da profundidade com que queiramos percorrer os seus mais de 800 quilómetros, assim como o nosso conhecimento prévio das cidades que se cruzam pelo caminho.

No caso deste passeio, cinco dias foi o tempo que se disponibilizou, contudo, para quem conheça menos cidades do percurso, duas semanas são bem necessárias.

Definimos, como início da nossa rota, Gijon e dali rumamos a Sul até chegarmos a Sevilha passando por várias cidades históricas.

Gijon, León, Salamanca, Cáceres, Mérida e Sevilha foram cidades visitadas noutros tempos, pelo que dedicámos o nosso tempo a Oviedo, Mieres, La Pola de Gordón, La Bañeza, Guijuelo, Bejar, Hervás, Jerte, Aldea del Cano, Alange, Zafra e Carmona.

Zamora e Plasencia são cidades onde fizemos uma ligeira incursão. Ainda não conhecemos mas, pelo que observámos, justifica uma visita com alguma dedicação.

Gijon
Gijon créditos: Paulo Silva| A Rolar pelo Asfalto

Gijon é uma cidade portuária que dispensa apresentações e assim, seguindo viagem, e já relativamente perto de Oviedo, existem dois pontos de interesse que, para os nossos gostos, são de paragem obrigatória.

Oviedo
Oviedo KAOS Temple créditos: Paulo Silva| A Rolar pelo Asfalto

O primeiro é o Museu Fernando Alonso e o segundo é o KAOS Temple.

Optámos por visitar o KAOS Temple em primeiro lugar, mas a sorte não estava a favor.

Há muito pouca informação disponível sobre este local, mas segundo informações de um colaborador de um café nas proximidades, só se pode visitar às sextas e aos domingos... assim fica apenas o link para satisfazer a curiosidade.

De nossa parte ficou essa curiosidade de conhecer uma "igreja" diferente do que habitualmente conhecemos.

Museu Fernando Alonso
Museu Fernando Alonso Museu Fernando Alonso créditos: Paulo Silva| A rolar pelo asfalto

No Museu Fernando Alonso pode-se contemplar a imensa história deste piloto de elite, desde o seu início no Karting passando pela Fórmula 1, onde ficou conhecido pelos seus feitos, mas não deixamos de ver outros estilos do seu percurso, como por exemplo, o Dakar e as 24H Le Mans.

O museu faz parte de um complexo que tem um campo de golfe e uma pista de karting para quem quer “rasgar” pneu e Rolar Pelo Asfalto de uma forma completamente diferente, mas, seguramente, com muita adrenalina.

Trata-se de um espaço bem conseguido e muito rico ao nível de conteúdo automobilístico.  Cada entrada tem um custo de 15 euros.

Continuando a viagem parámos em Oviedo, onde aproveitamos para descansar. Estranhamente, Oviedo é pouco ou quase nada referido nesta rota, mas é uma cidade imperdível, podendo ser considerada um museu a céu aberto.

Para conhecermos a cidade de forma “rápida” e sem perder tempo desnecessário usámos a app CityMaps2Go para planear a visita à cidade. Depois é só vaguear e seguir o GPS do telemóvel.

Pelo que se pode ler em diversa bibliografia, nesta cidade há mais de 150 esculturas espalhadas pelas ruas e de muitas emblemáticas e importantes, destacamos a que mais “piada” achámos... a Mafalda!

Mafalda
Mafalda Mafalda em Oviedo créditos: Paulo Silva| A rolar pelo asfalto

Continuámos em direção a Mieres, que é uma pequena cidade bastante industrial e que apresenta uma pequena praça, onde uma estátua representa uma merecida homenagem à sidra que é um símbolo da identidade asturiana.

Não é necessário muito tempo para visitar este local, mas é interessante.

O ritual de servir a sidra é muito curioso e faz com que esta ganhe o oxigénio necessário para que todo o seu sabor seja conseguido quando ingerida.

Estátua que homenageia a sidra
Estátua que homenageia a sidra Estátua que homenageia a sidra Paulo Silva| A rolar pelo asfalto

Continuámos pela N 630, fizemos uma incursão nas montanhas da cordilheira Cantábrica, em direção a La Pola de Gordon.

A estrada é magnífica tanto a nível paisagístico como a nível da condução pois apresenta curvas bem delineadas e um excelente asfalto.

Neste local´, o tempo parece não passar. A serenidade do povoado juntamente com a tranquilidade do rio Bernesga proporcionam uma sensação de paz absolutamente fantástica.

Seguindo viagem, passámos por León, onde se recomenda uma visita geral à cidade que apresenta uma catedral de grande interesse, e parámos em La Bañeza que é considerada um templo em matéria do Street Art.

A cidade em si não encantou, contudo, a quantidade de pinturas murais espalhadas pelas ruas daquela cidade é impressionante e a qualidade de algumas obras eleva esta arte para um patamar diferente do que tenho estado habituado.

Muito interessante, pelo que justifica uma breve paragem, para quem gosta de apreciar este tipo de arte.

La Bañeza
La Bañeza Street art em La Bañeza créditos: Paulo Silva| A Rolar pelo Asfalto

Voltamos à estrada, sempre dando preferência à N 630 apesar de pontualmente a A66 ser uma opção, fizemos uma breve incursão em Zamora.

Pelo que vimos (algumas ruas do centro e a Catedral), justifica uma visita.

De Zamora a Salamanca são pouco mais de 65 quilómetros e a N 630 tem uma paisagem lindíssima que merece ser apreciada de forma descontraída e calma.

Salamanca também é de paragem obrigatória para quem por aquelas zonas andar e recomenda-se a visita, nomeadamente ao seu centro histórico.

Continuando a descer em direção ao mediterrâneo, escolhemos Guijuelo para recarregar as nossas baterias.

Guijuelo é uma povoação muito pequenina mas interessante. Aqui tudo gira à volta do porco ibérico, ou não fosse conhecida como um dos quatro locais, por excelência, da produção de “jamon ibérico”.

A rua principal tem inúmeras lojas de venda direta, segundo anunciam, ou seja, do produtor ao consumidor.

Justifica uma visita mas cuidado pois, após as festas (em 2022 realizaram-se de 14 a 19 de agosto), a maior parte das empresas encerra para férias até ao final do mês de agosto. Ficar a pernoitar... não recomendo!

Guijuelo
Guijuelo Guijuelo créditos: Paulo Silva| A Rolar pelo Asfalto

Rumámos até à cidade de Bejar.

Bejar é uma cidade pequena mas de grande interesse e tem a praça de touros que, segundo dizem, é a mais antiga de Espanha.

Aqui também existe o Museu Taurino que mereceu uma visita e uma recomendação para todos os que por estes lados andarem.

De Bejar a Candelario é um “tiro” e é importante fazer uma visita a este local que, segundo alguns especialistas, é uma das aldeias mais belas de Espanha.

Magnífico...

Infelizmente o tempo passava depressa e há que colocar pernas no caminho para o próximo destino, o Museu da Moto e dos Carros Clássicos que fica em Hervás, já bem a meio desta rota.

O Museu é um local de visita recomendada e, apesar de ser de propriedade privada, tem um espólio muitíssimo interessante.

Museu
Museu créditos: Paulo Silva| A Rolar pelo Asfalto

Com um pequeno desvio à N630, pela N 110 seguimos até Plasencia que é uma cidade com interesse turístico.

A opção foi bem escolhida pois fomos pela Estrada Panorâmica do Vale de Jerte que é a terra onde os pessegueiros e as cerejeiras são os reis.

Continuando pela N630, que fica junto à A66, seguimos até Casar de Cáceres (uma terra imperdível para os apreciadores de queijo), Cáceres, Aldeia do Cano, até chegarmos a Mérida.

Cáceres também dispensa apresentação e é uma cidade que merece ser visitada com tranquilidade. A zona histórica é lindíssima.

Aqui há bom ambiente, boa paisagem e boa gastronomia, ou seja, tudo o que se pretende num passeio deste género.

Em relação a Mérida faz-nos voltar ao tempo dos romanos e o seu anfiteatro leva-nos a lutas entre gladiadores e corridas... uma visita imperdível.

Continuando, seguimos até Alange , que fica a pouco mais de 20 quilómetros de Mérida. O Gran Hotel Aqualange é fantástico e o Balneário que alí existe (termas) é um local ideal para repor as nossas energias. Recomenda-se!

Saindo de Alange e passando por várias povoações com a sua própria beleza (ex Almendralejo) chega-se a Los Santos de Maimona, onde se pode ver El Capricho de Cotrina. Uma casa surreal que faz lembrar Gaudí.

Mototurismo
Mototurismo Mototurismo créditos: Paulo Silva| A Rolar pelo Asfalto

Este local está a poucos quilómetros de Zafra. Uma agradável surpresa! A sua beleza justifica o encontro de vários companheiros que utilizam a moto como forma de idealizar as suas férias. Destacamos dois deles, com um estilo muito próprio, e com condução de um triciclo. Eram de Manchester e, curiosamente, iam de férias para o algarve.

 

Seguimos viagem até Montemolin. O castelo encontra-se com alguma degradação mas consegue-nos levar aos tempos de cavalos e cavaleiros e está enquadrado numa paisagem deslumbrante.

Montemolin
Montemolin

E seguimos para Carmona, pelo Parque Natural da Serra do Norte, que nos conduziu a uma paragem em Constantina.

Uma paisagem interessante, um asfalto horrível e não recomendamos essa pequena parte da viagem! Deve ser arranjada uma alternativa a este itinerário.

Chegarmos a Constantina, uma cidade também interessante e, por entre campos de algodão, girassóis e vastos campos de pomares, chegamos a Carmona .

Carmona é uma cidade fantástica, pequena mas de grande interesse cultural e arquitetónico. Justifica passar tempo a contemplar o seu “casco histórico”.

De Carmona a Sevilha são cerca de 30 minutos e esta cidade também dispensa qualquer tipo de apresentação. A sua visita é obrigatória.

Assim concluímos a nossa rota pela Via de La Plata no entanto, no regresso a terras Lusas não podíamos deixar de visitar os 5 Jotas, um dos presuntos com fama por estas bandas.

De Sevilha a Jabujo são cerca de 1:30 hores e justifica a visita, ou não fizesse esta região parte de uma das quatro regiões demarcadas do porco ibérico.

A visita guiada demora aproximadamente 60 minutos, custa 20 euros, e, aqui, aprendemos um pouco sobre o porco, sobre o presunto, paleta e a sua preparação para a mesa (não recomendado a vegetarianos).

Aqui está o nosso registo cinematográfico

Até à próxima e boas curvas!

*Artigo originalmente publicado no blogue A Rolar pelo Asfalto