“Alcochete” é um topónimo de origem árabe, que deriva de “al-kusat” (que significa “os fornos”). É uma vila antiga, cuja fundação remonta ao século VII. Pensa-se que a sua existência está relacionada com a tradição oleira que se desenvolveu na região durante o período romano e que está comprovada em cerca de vinte sítios arqueológicos situados sobretudo ao longo da margem direita da ribeira das Enguias.

Quem quer visitar a vila e vem de carro, pode começar o passeio pelo Largo Almirante Gago Coutinho. É fácil de estacionar nas redondezas e depois seguir a pé, descobrindo devagar o património singular da região.

Logo no Largo encontramos um espaço ajardinado com um bonito coreto e vários edifícios, cujas fachadas preservam o estilo Arte Nova, visível nos azulejos com figuras, balaustradas de cerâmica, estátuas e jarrões. A Casa Moisém, a Casa de António José Garrancho e a Casa dos Bustos são particularmente merecedores de atenção.

Dizem que é obrigatória uma paragem nas padarias de fabrico próprio “Popular” e “Piqueira” para os admiradores de doçaria tradicional, mas infelizmente estas estavam encerradas quando por lá passei. Entre as várias iguarias que ali podem ser saboreadas, destaca-se a fogaça de Alcochete, famosa pelo seu sabor e textura única.

Padaria Piqueira
créditos: The Travellight World

A paragem seguinte é o Largo de São João.

No século XVI, esta era uma área essencialmente ocupada por quintas agrícolas, mas hoje essa realidade está longe, e o Largo é um dos lugares mais movimentados da vila, frequentado tanto por residentes como por visitantes, com cafés, restaurantes e bancos de jardim que convidam a um momento de pausa. Abriga vários edifícios de interesse histórico como a Igreja Matriz; o antigo Solar dos Pereiras (atualmente ocupado pelos Paços do Concelho) e uma estátua dedicada ao Padre Cruz, que aqui nasceu.

Outro motivo de interesse no Largo é o Poço de São João, que foi recuperado pela Câmara Municipal em 2009 e está intrinsecamente associado ao imaginário coletivo da comunidade local, uma vez que durante séculos e até 1943, foi o principal ponto de abastecimento público de água na vila de Alcochete.

Deixando o Largo de São João e entrando por ruas paralelas descobrimos becos e outros largos mais pequenos, como o Largo da República que tem no seu centro o poético Monumento ao Salineiro — Do Sal a Revolta e a Esperança; o Largo João da Horta que exibe a Estátua Do Forcado ou o Largo António dos Santos Jorge que abriga a sede do Grupo de Forcados Amadores de Alcochete.

Chegando à Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, no limite norte da Vila, avistamos ao fundo o Estuário do Tejo. É aqui que está imortalizada a homenagem de Alcochete à diva do fado, com o Miradouro Amália Rodrigues.

Miradouro Amalia Rodrigues

Seguindo da Avenida dos Combatentes para a Rua do Norte, e sempre com o rio Tejo a espreitar, chegamos à Igreja de Nossa Senhora da Vida, e ao Bairro das Barrocas, um bairro típico que no passado, foi habitado predominantemente por gente ligada às atividades tradicionais como as salinas e a pesca. As casas são simples, pintadas de branco, mas com as bordas cheias de cor.

Tem um cariz assumidamente popular, que contrasta com o Largo de São João que antes era habitado pela burguesia.

O Largo da Misericórdia é um dos principais da Vila, com elementos que testemunham a história local. Aqui encontramos o Padrão comemorativo do nascimento de D. Manuel I que reúne algumas referências à sua vida e às descobertas que foram alcançadas no seu reinado; e a Igreja da Misericórdia, edificada na segunda metade do século XVI, que agora integra o Núcleo de Arte Sacra do Museu Municipal e o Posto de Turismo de Alcochete.

O Restaurante Solar do Peixe, que fica no Largo da Misericórdia, é uma excelente opção para almoçar. Se ficarem sentados na esplanada reparem na fachada que fica ao lado, onde ainda existe uma pedra com as armas da família Beliago (que foi muito importante em Alcochete durante o século XVI).

Depois do almoço, nada como andar para ajudar na digestão. E se for num lugar tão bonito como a Ponte-Cais, próxima do Largo da Misericórdia, é ainda melhor.

Ponte-Cais
créditos: The Travellight World

Noutros tempos, a Ponte-Cais foi utilizada para a acostagem de embarcações de maior dimensão, como o vapor de Alcochete ou o cacilheiro, popularmente conhecido como “O Menino” que até aos anos 50 do século XX assegurou a ligação fluvial entre Alcochete e a capital.

Hoje esta infraestrutura continua a servir de apoio à atividade piscatória e é muito frequentada por visitantes e moradores que aqui se deslocam para um agradável passeio à beira rio.

As estrelas das fotografias dos visitantes são o farol e o Bote Leão — uma embarcação tradicional, propriedade da Câmara Municipal de Alcochete, que reflete a história, a tradição local e a grande paixão pelo Tejo, orgulhosamente assumida pelas gentes locais.

O barco foi construído de raiz de acordo com as técnicas utilizadas na construção das antigas embarcações que navegavam no rio e atualmente é usado para fazer passeios pelo Estuário Natural do Tejo.

Da Ponte-Cais, e para finalizar o passeio antes de regressar ao centro da Vila, podemos seguir caminho pelo Passeio do Tejo, um dos principais cartões de visita do Concelho de Alcochete.

Se tiverem mais tempo na Vila, podem visitar nos arredores, as Salinas do Samouco; o Polo Ambiental do Sítio das Hortas, situado em plena Reserva Natural do Estuário do Tejo; a Praia dos Moinhos e a Praia Fluvial do Samouco, onde existe um circuito pedonal, um parque infantil e uma zona de merendas.

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Artigo originalmente publicado no blogue The Travellight World