Depois dos jardins coloridos de Santa Bárbara, dos impressionantes órgãos da Sé e da dourada sumptuosidade da Igreja de Santa Cruz, parecia que o dia em Braga não podia guardar mais surpresas. Faltava folhear a Centésima Página, uma discreta livraria no centro da cidade que parece estar ali à espera dos incautos amantes dos livros.

Foi um dos sítios que mais gostei de descobrir em 2022. Visitei-a no verão e pôs-me a pensar naquilo que torna uma livraria, especialmente esta, num sítio tão acolhedor.

Discreta

Centésima Página
O interior da livraria Centésima Página, em Braga créditos: Pedro Neves

Ao deambular por caminhos desconhecidos, poucas surpresas são mais reconfortantes do que encontrar uma livraria.

No caso da livraria bracarense, se não soubermos à partida que está lá, é fácil não dar por ela. Virada para a Praça da República, a poucos passos do centro histórico da cidade, está instalada num edifício do século XVIII, conhecida como a Casa Rolão.

A vetustez do edifício não permite, presumivelmente, grandes letreiros ou chamadas de atenção, e isso acaba por contribuir para uma certa sensação de recato. Só um olhar mais atento pela fachada envidraçada é que revela as estantes cheias de livros.

Labiríntica

Percorremos uma livraria do mesmo modo que navegamos um labirinto. Será por isso que estes espaços nos parecem tão lúdicos e convidativos?

A Centésima Página partilha dessa qualidade labiríntica, sobretudo na sua maior sala, forrada de livros até ao teto (escadote incluído) e dominada, ao centro, por uma estante a fazer lembrar a curvatura da página de um livro.

Ajardinada

O jardim da livraria Centésima Página
O jardim da Centésima Página créditos: Pedro Neves

As minhas livrarias preferidas convidam os visitantes a demorar-se, seja através de sofás estrategicamente colocados ou de pequenos cantos de leitura. Algumas, mais raras, oferecem algo ainda mais precioso: um jardim. No meio da cidade, do poder gravitacional dos centros comerciais e das dificuldades inerentes a um negócio à volta dos livros, entrar numa loja e sair para um quintal com um livro parece um achado.

Não damos imediatamente pelo jardim da Centésima Página. Como quem guarda um segredo e espera pelo momento certo para revelá-lo, só quando chegamos à secção infantil, na sala dos fundos, é que damos por ele, espaçoso e convidativo. No final do verão, mostra-se verde e exuberante. No inverno, a frondosidade dá lugar à delicadeza e o espaço parece iluminar-se com a magnólia em flor ali existente.

Livraria-cafetaria

No mundo das letras, haverá melhor encontro de palavras do que livraria-cafetaria? Ou melhor sítio para um encontro? Livraria-cafeteria é um daqueles binómios que funciona sempre bem.

O centro histórico de Braga tem uma concentração incrível de restaurantes interessantes para experimentar, mas não é preciso deixar os livros para experimentar um almoço saboroso.

Livraria Centésima Página

  • Morada: Av. Central, n.º 118-120, Braga
  • Horário: disponível na página oficial.