Registo a maioria das conversas e faço transcrições (e traduções). Assim, desta vez, não se trata das minhas voltas ao mundo, mas dos amigos estrangeiros que nos visitam. Compilei o que preferem os turistas em relação aos lugares portugueses: Porto, Aveiro, Fátima, Lisboa, Setúbal, Algarve. De forma geral, são estas as cidades/distritos que ganham mais ‘seguidores’. Mas, o turista que melhor explora, esse tem um olho refinado e mais abrangente. Pede assim:
- Pode deixar-me num lugar longe de Lisboa, não quero o centro turístico, quero conhecer Portugal.
Era de França e “não queria saber dos restaurantes turísticos, mas conhecer coisas locais. É por causa da explosão do turismo que Portugal não avança, pois quanto mais turistas temos, mais aumentam os preços”. Aliás, este turista comparou os preços portugueses com os preços de França, sendo os salários totalmente díspares.
O motorista claramente o entende e decide mudar o destino no GPS. Lia-se, no momento, o “Bairro Alto”, mas logo virou o volante em direção a Belém e ao Pão Pão, Queijo Queijo. Depois deixou umas dicas de algibeira: “vá à margem sul e procure Setúbal e as praias. E o choco frito. Quando estiver cansado do Médio Tejo, siga para a Costa Vicentina (apontou Porto Covo) e para Lagos”. Sobre o norte do país, sugeriu fortemente a foz do Porto e zonas de serra.
Sobre o centro de Lisboa e do país: os turistas que entram neste carro em junho de 2023 queixaram-se dos santos populares, agora no regresso: “pensava que era mais barato, uma sardinha 3.50?”. Decerto temos espinha de ouro nestes peixinhos. Mas, no geral, todo o turista vem e vai animado por causa das festividades, das cores e ficando a pensar que os portugueses são muito sorridentes e amantes de cerveja. E não somos? Com orgulho.
Outro caso que traduzi. Mal entrou um jovem no carro, no Terminal 1 do aeroporto de Lisboa, vindo das áreas escandinavas, comentou: “Então vou conhecer o país onde se recebem 750 euros e se paga 750 euros por um quarto no centro da capital, certo?”. O motorista riu-se de tristeza. O que dizer mais perante estas coisas que os estrangeiros ouvem de nós, lá fora. Mas outros vêm todos contentes, ora veja:
- Sabe, sempre ouço dizer que os portugueses têm muitos conhecimentos históricos. É verdade?
No regresso, vários clientes sublinharam as nossas competências linguísticas, sobretudo no inglês e espanhol.
Recordo-me também da descrição deste cliente do carro:
- Não se come melhor do que no Norte de Portugal, já cá estive uma vez. Mas faltam-me as ilhas…
Então, ainda lhe falta meio Portugal, porque Madeira e Açores são muito especiais e concordarão comigo. Na natureza, nos contrastes de temperaturas, na gastronomia deliciosa, na arquitetura, nas praias como a de Porto Santo.
Curioso, este TVDE, noutra perspetiva, tem levado imensos turistas com um destino muito assertivo: “Cascais, por favor”. O motorista perguntou o que esperavam de Cascais: “é bonito e verde”. E tem o golfe, claro. Opinião geral e muito positiva. Outra curiosidade, as gorjetas generosas são dadas sobretudo por visitantes ucranianos e norte-americanos. Depois, pessoas vindas da zona persa e da América Latina são as mais otimistas e conversadoras. Anotei uma em especial,
- Eu gostava muito de viver para sempre em Portugal. Tem tudo certo, comida boa, simpatia, música e segurança. E é muito bom para estudar.
Uma senhora muito afável, do Brasil,
- Senhor, como param tanto tempo no sinal [semáforo]? Mas que paz é esta por aqui? No Brasil não é assim, não.
Uma senhora acaba de chegar, toda fervorosa, do avião, aborrecida e entra de rompante no carro,
“Como é possível haver greve do metro? E porque está tanto calor neste país?”. Esta cliente não terá pesquisado bem Portugal ou então apanhou o voo errado. Quanto ao metro, a greve é e qualquer lugar do mundo onde ele exista. Depende dos humores.
A temperatura, a gastronomia de primeira, as paisagens, a simpatia das pessoas, o conhecimento turístico e os campos de golfe foram os aspetos mais sublinhados. Exceto a temperatura do mar, de se ressalvar. Quanto ao conhecimento turístico, ora nós, portugueses, somos bons hospitaleiros desde que o Condado Portucalense se fundou.
E claro está que muitos portugueses, de regresso do mundo, se recostaram no banco do mesmo carro e contaram as suas histórias e os seus queixumes. Não é tudo um mar de rosas, mas pelo menos temos mar.
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