"É uma casa de hóspedes com tratamento personalizado. Não se trata de uma simples relação comercial. É muito mais do que isso. É a relação de amizade que se pretende estabelecer com o hóspede, perceber o que procura em Viana do Castelo", afirmou hoje à agência Lusa um dos promotores, Nuno Freitas.
O alojamento também pode ser adaptado às necessidades específicas de cada hóspede, oferecendo diferentes tipologias e preços, com uma capacidade de alojamento até 27 pessoas por noite.
Os "anfitriões" da Dona Emília são um casal de 36 anos, ambos de Viana do Castelo. Nuno Freitas formou-se em arquitetura e Rute Esteves em Artes Performativas.
"Damos muita importância à partilha humana. Queremos tratar quem nos visita como gostaríamos que nos tratassem a nós. Um hóspede bem tratado volta e vai recomendar-nos", referiu Rute Esteves.
O gosto por "bem receber" começou quando ainda eram estudantes universitários, no Porto. Para ajudar a pagar as despesas dos estudos decidiram arrendar um dos quartos da casa que habitavam e "adoraram a experiência".
"Viajávamos sentados no sofá lá de casa. Mostrávamos a quem ficava em nossa casa o melhor do Porto e o hóspede mostrava-nos o melhor da sua terra. Criámos amizades e ainda hoje recebemos postais de vários pontos do mundo de pessoas que ficaram nossas amigas", explicou Nuno Freitas.
A primeira experiência levou-os a novas apostas em turismo urbano em Barcelona e, durante os últimos três anos, num empreendimento de turismo rural perto do Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG).
O projeto da Dona Emília surgiu há mais de um ano, "por acaso" quando visitaram o imóvel que estava para arrendar. Para "ultrapassar a crise e o desemprego", em que ambos se encontravam, apostaram no financiamento para estimular a criação do próprio emprego.
"A casa foi recuperada com muita dedicação, mantendo alguns pormenores do passado, criando outros novos e reutilizando materiais", explicou o arquiteto que criou várias peças da decoração do edifício de três andares. A reutilização de portas antigas, que passaram a ser cabeceiras de cama, ou a bancada de trabalhos oficinais de uma escola secundária da cidade, transformada em banca de cozinha são alguns exemplos.
Situada em plena Praça da República, ex-líbris da cidade, a casa tem, ao lado, o Museu do Traje e vista para o templo de Santa Luzia. Vai abrir na terça-feira e receber, como primeira hóspede, a jovem brasileira que este ano dá rosto ao cartaz da Romaria d'Agonia.
Uma "dinâmica cultural forte" é outra das apostas do novo espaço, através da realização de residências artísticas, de exposições e workshops para os turistas, entre outras iniciativas.
"Temos várias ideias, mas o conceito que queremos irá evoluir naturalmente", sublinhou Rute Esteves.
O nome do espaço é uma homenagem à avó de Nuno Freitas, de quase 89 anos. Ainda canta o fado, é "exímia" cozinheira da gastronomia regional, costureira e modista, ajudou no governo da casa e da educação dos três filhos, alugando quartos durante vários anos a hóspedes "que passaram a ser como família".
"Nasceu em 1927, viveu grande parte da vida sob a ditadura que combateu, fazendo de sua casa um abrigo para resistentes e baluarte pela igualdade de direitos das mulheres", explicou o neto.
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