15 mil azulejos vestem as quatro paredes com desenhos de varinas, campinos, forcados, faias agrícolas e motivos florais.
Com uma outra particularidade: cada uma das quatro portas de acesso corresponde a uma estação do ano e os painéis da parede ilustram também a flora da respetiva época do ano.
Quem visita o Mercado Retalhista pela primeira vez fica impressionado conforme testemunha José Vilela, concessionário de peixe há 12 anos. “As pessoas gostam sobretudo da parte exterior que é espetacular. Gostam, entram, dão uma volta e vão à sua vida. Por dentro, há cada vez menos clientes.”
José Vilela vem para a banca do peixe ajudar a mulher à sexta e ao sábado. À semelhança de outros vendedores, queixa-se de poucos clientes e da não renovação da clientela. “São muito poucos os clientes novos".
"Depois de passar esta faixa dos 50, 60 anos, penso que vai ser difícil manter este mercado. Há ainda outro problema que tem a ver com os horários. Ao fechar por volta das 14h as pessoas quando regressam do trabalho, perto das 18, 19h, acabam por ir a outros locais como as grandes superfícies".
"Também não há atrativos para chamar pessoas ao mercado. Há um projeto para abertura de dois restaurantes, terão sido aprovados há cerca de dois anos na Câmara Municipal, mas até hoje nada feito.”
Na Câmara Municipal responderam-me que em breve o Mercado Retalhista vai ser renovado, vai ter espaços de restauração e bebidas. A intervenção abrange a zona envolvente. Nesta fase está a decorrer a elaboração do Projeto e Estudo de Arquitetura para a Revitalização do Edifício do Mercado e projetos de especialidade.
O mercado é de 1929. Os azulejos foram colocados nos anos seguintes e em 2006 foram sujeitos a um longo e minucioso trabalho de conservação. Os azulejos foram produzidos na Fábrica de Loiça de Sacavém e são a marca mais forte do mercado.
Outra é a estrutura de ferro no interior que suporta o telhado e deixa entrar luz natural. O interior foi renovado há cerca de duas décadas mas manteve-se a traça original. Segundo o testemunho de José Vilela, a principal alteração foi a construção de bancadas novas. Fizeram também um telhado novo e mantiveram a estrutura metálica.
Na área do peixe são nove bancas. Há ainda padarias, talhos, troca de livros, frutas e vegetais que, em alguns casos, são os próprios produtores que vêm vender.
“São dois ou três. Os outros vão comprar a uma superfície no Carregado que também é da Câmara.” No peixe a maioria abastece-se no MARL.
Um dos produtores é uma senhora que há 60 anos quase diariamente faz o caminho até Porto Alto. Produz e vem aqui vender alguns dos seus produtos. “Agora produzo muito menos. Batatas, vegetais, laranjas, clementinas, tangerinas… mas também vendo de outros produtores.”
Com mais de 80 anos de idade estava com pressa porque tinha de apanhar a camioneta para regressar a casa. Nos 60 anos de experiência regista várias mudanças no mercado: “agora está muito bem arranjado, mas tem menos clientes. Os supermercados estragaram isto tudo.”
A senhora não tem bem a certeza do número da banca, talvez a 9 e, de certa forma, não precisa do número porque tem clientela certa, “são bons clientes os que já tenho há muitos anos. Os novos também. São é poucos.”
A meio da hora do almoço muitas das bancas já estão arrumadas. A maior azáfama é no café onde os clientes se misturam com os vendedores para comerem uma sopa ou o arroz doce que, entretanto, esgotou e mereceu vários comentários.
É mais um dos registos da alma do Mercado Retalhista que, apesar das dificuldades, mantém vivo um ambiente que imediatamente se sente e é sintetizado por José Vilela: “o ambiente é muito positivo. Há poucas exceções, mas damo-nos todos bem. É saudável”.
Mercado Retalhista de Vila Franca de Xira faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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