O saber era transmitido de geração em geração, muitas vezes na própria família mas as últimas gerações emigraram ou preferiram outras profissões.

Alcains
Relógio solar feito em pedra e em exibição no museu créditos: Who Trips

Em Alcains, há pouco mais de meio século, havia cerca de 500 canteiros. Ainda vivem dois ou três mas já não trabalham.

Para preservar o conhecimento e as práticas do canteiro, por iniciativa da população de Alcains, foi criado o Museu do Canteiro. Está instalado no solar Ulisses Pardal, que tem igualmente um belo trabalho de cantaria.

A exposição com utensílios, imagens, trabalhos em granito e textos didáticos ilustram o trabalho meticuloso, paciente e árduo do canteiro.

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Colocação de cunhas para partir a pedra créditos: Who Trips

Percebe-se, por exemplo, como cortavam a pedra, com cunhas de madeira que eram molhadas e era a dilatação da madeira que provocava a fenda na pedra. As cunhas eram colocadas em linha e o canteiro definia esse traço em função da textura do granito ou da ardósia. Em blocos maiores faziam buracos na pedra para colocar a pólvora.
O corte, os efeitos ornamentais e a utilização dos vários blocos exigiam um conhecimento especializado entre os próprios canteiros.

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Máquina utilizada pelos canteiros créditos: Who Trips

Muito do trabalho dos canteiros era feito na pedreira. Partiam ao nascer do dia e regressavam ao pôr do sol. O almoço era levado numa cesta de verga e as condições de trabalho eram precárias. Pequenas oficinas ou estaleiros onde era frequente contraírem doenças nos olhos, pulmões e a terrível silicose, provocada pelo pó da pedra.

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Máquina para içar as pedras de grande dimensão créditos: Who Trips

Ganhavam ao dia ou à peça, o trabalho era mal remunerado e começou a ser pouco competitivo com o início da mecanização. Por exemplo, com o fio helicoidal, era muito mais rápido e eficaz o corte da pedra e permitia ainda o corte de enormes blocos de pedra que os artesãos não conseguiam com as cunhas de madeira ou ferro.

A indústria ganhou espaço ao artesão que passou a trabalhar mais na oficina, como técnico de uma linha de produção mecanizada.

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Interior do Museu créditos: Who Trips

A profissão de canteiro foi também perdendo a sua relevância porque a função social da cantaria, a ostentação, a afirmação de um estatuto foi substituída por outros objectos.

O antropólogo Jorge Dias referia que o tamanho das portas das casas assinalava a relevância social e económica do proprietário.

A cantaria era outro processo de manifestação do estatuto social de uma família ou de uma organização.
Os novos ricos de hoje fazem a ostentação de forma diferente, substituíram o granito pelas câmaras de vigilância.

Vamos partir pedra a Alcains faz parte do podcast semanal da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio, Vamos partir pedra a Alcains , pode ouvir aqui