Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra.
Era uma vez a gente que construiu esse convento.
Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes.
Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido.
O ouro do Brasil permitiu a D. João V contratar um exército de 52 mil trabalhadores, escolher os melhores arquitetos e artistas para edificarem uma obra monumental, ilustrada, por exemplo, nos carrilhões, nos seis órgãos de tubos ou na excecional e rara coleção de cerca de 36 mil volumes da biblioteca.
A coleção de livros vai do século XV ao XIX e funciona como um verdadeiro repositório do Saber na Europa nesta época.
Numa reportagem, há algum tempo, com Teresa Amaral, responsável pela Biblioteca do Palácio de Mafra, ela não escondia o prazer de trabalhar numa das que é considerada das mais bonitas em todo o mundo.
Para além da subjetividade sobre a sua beleza, a biblioteca destaca-se “a nível mundial por não ter sido acabada". Estava tudo preparado para a decoração final, com retratos, pinturas, mas “o facto de ter ficado assim criou-lhe uma perspetiva, uma ambiência, completamente diferente das outras.”
Enquanto a biblioteca tem tons suaves, as várias salas do Palácio Real revelam pinturas, esculturas, mobiliário e decoração com cores intensas. Com sinais de ostentação, luxo, do melhor que se produzia no século XVIII.
Os visitantes observam apenas uma pequena parte das 1.200 divisões do Palácio. “Precisava de vários dias para ver todos os detalhes porque é deslumbrante. Há heranças de épocas e estilos artísticos diferentes. Pintura, escultura, arquitetura... é um acervo muito rico”. O comentário é de Natália, vive no Brasil, e é professora de Arte.
Tinha acabado de visitar o Palácio. Ia depois descobrir a Basílica. Fez a visita acompanhada de Ana Cristina que tem a particularidade de ter estado na ala do edifício ocupado para uso militar, onde hoje funciona a Escola de Armas. Fez uma especialização há 17 anos e já conhecia o Palácio.
A ala militar é possível visitar sob marcação prévia e, “apesar de pertencer ao mesmo edifício é completamente independente. Há 17 anos não havia qualquer alteração à traça original. A principal diferença é quem que em vez de pinturas e outras obras de arte estavam em exposição armas, escudos e outros objetos de âmbito militar.”
A fantasia de Blimunda ou a criatividade do padre Bartolomeu de Gusmão, inventor da Passarola, encontra correspondência nesta parte do convento, com imensas histórias que se contam sobre os subterrâneos.
Com um sorriso, Ana Cristina acrescenta que a quase totalidade dessas histórias “são lendas urbanas”. Lembra-se, por exemplo, “da praxe, de quem era novo na cozinha, a história da rata branca. Era uma mera brincadeira entre camaradas.”
Ana Cristina leu o Memorial do Convento, não é das suas obras favoritas, mas sente-se influenciada pelo livro quando da visita ao Palácio. “É impossível não associar a obra de Saramago ao Palácio”. No entanto, “o livro não faz jus à ao valor da obra do palácio de Mafra”.
Não faz parte da Rota Memorial do Convento, mas é obrigatória a referencia à estátua junto ao aeroporto de Lisboa do padre Bartolomeu de Gusmão.
O precursor da aeronáutica inventou a Passarola, que está na origem da viagem por balão e zepelim. Na verdade, a Passarola, o desenho de uma barca em forma de pássaro, é uma gravura que visava despistar o invento que, entretanto, mostrava na corte portuguesa e que, acabou por não recetividades para uso futuro. A estátua é do escultor Martins Correia. Foi construída em 1970 e inaugurada em 1989.
Pode ver aqui informação mais aprofundada sobre a estátua num estudo de António José Lopes Coelho.
A primeira edição do Memorial do Convento foi em outubro de 1982. Vai fazer 40 anos.
Aqui encontra mais informação sobre a Rota Memorial do Convento
Rota Memorial do Convento: “Era uma vez a gente que construiu esse convento” faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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