António Catana, investigador e autor de várias obras sobre etnografia no concelho de Idanha-a-Nova, refere que a presença de muitas pessoas nas cerimónias religiosas “é porque há muita pureza nestes rituais. Por outro lado, as pessoas gostam de vir à sua terra, às suas raízes. Vestem as opas e gostam de participar ativamente.”
Um dos momentos mais interessantes é passado no interior da bonita igreja Matriz, do século XVI, de pedra, e que recebe os visitantes antes da subida para o castelo.
É uma representação cénica de Maria Madalena que, na opinião de António Catana, será uma herança dos Templários que tiveram uma forte presença no território.
“A padroeira dos Templários foi Santa Maria Madalena. Eu não conheço outra parte do país onde exista esta representação."
Durante o sermão, o padre descreve a vida de Maria Madalena e aparece na coxia na igreja uma jovem de cabelos compridos e com um xaile vermelho, muito garrido. Leva ramos de flores que vai dando aos jovens, até que o padre refere o arrependimento e nesse momento ela deita fora o xaile.
Vai para junto do Cristo, em tamanho natural, que está arvorado na cruz. Permanece ali durante algum tempo, enquanto o padre vai referindo o seu arrependimento.”
A igreja é pequena e a representação domina por completo a atenção dos presentes e surpreende quem desconhece o ritual.
Mais dramática é a descida da cruz da imagem de Cristo porque é assumida com grande realismo. “Com martelos tiram os cravos em que Cristo está amarrado na cruz. É tudo feito em silêncio profundo com a igreja repleta de gente.
Através de duas faixas de pano de linho conseguem descer a imagem de Cristo e colocá-la num esquife para depois se iniciar a procissão do enterro do Senhor. Ainda antes de sair há uma outra representação que é a da Verónica, após o canto das três Marias, em Latim. A Verónica está vestida de branco e ao cantar desenrola um pano onde tem a imagem do rosto de Cristo. São momentos dramáticos.”
Nas investigações que realizou António Catana associa o ritual da descida da cruz a influência de conventos franciscanos. “Em 161 foi a primeira vez que se realizou o descimento de Cristo da cruz. Foi em Salamanca.
Um dos padres franciscanos fazia o sermão e dois subiram a uma escada para fazerem este tipo de descimento da cruz. No concelho de Idanha-a-Nova tivemos dois conventos franciscanos e não admira que ao longo dos anos tivessem perpassado essa prática. Quem vê fica, de facto, maravilhado.”
Nesta semana e até segunda-feira de Páscoa são muitos os rituais que se intensificam em todo o concelho. Os mais invulgares são a Ceia dos Doze, em Segura, com peixe frito acompanhado de esparregado de ervas amargas na ementa. Outra tradição são os apitos na missa de Sábado de Aleluia e o posterior arremesso de amêndoas no adro da igreja, para uma multidão de pessoas, pelo padre de Idanha-Nova.
Rituais únicos na Páscoa de Monsanto, “a aldeia mais portuguesa” faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, foi apoiado pelo Turismo do Centro, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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