O postal ilustrado são os palheiros que ainda existem, a arte xávega que corre o risco de extinção a médio prazo e a batata assada na areia, um prato típico mas raro porque é proibido fazer fogueira na praia.
Na verdade, com esta apresentação, faz sentido as palavras de Paulo Delgado que há 31 anos vive aqui e é apaixonado pela Praia da Tocha. De tal forma, que até se casou no areal.
É um profundo conhecedor da cultura e das gentes da praia e ele próprio adianta que se trata de um lugar com características muito especiais – “os palheiros usados pelos pescadores estão a desaparecer porque na década de 70 as casas de madeira foram conotadas com a miséria e muitos foram destruídos”.
Os poucos que existem são o símbolo da Praia da Tocha. A maioria estão nas ruas próximas da praia. Alguns foram recuperados outros mantêm a traça, não a original, mas de algumas décadas atrás e são muito pequenos.
A juntar aos palheiros, outra característica da Praia é a comunidade de pescadores com a arte xávega.
A arte xávega é uma técnica de pesca de arrasto secular e que tem forte afirmação nesta região. Numa das entradas na praia são visíveis vários palheiros com os barcos e os instrumentos de pesca. A arte tem sofrido alguma evolução.
As redes são colocadas em alto mar e um dos cabos fica em terra (“mão de terra”). Os pescadores descrevem um semi-círculo e trazem depois a outra ponta para terra. As redes têm bóias e na zona central está um saco de rede. Antes as redes eram arrastadas até ao areal por pessoas e agora é por tratores.
Outra mudança tem a ver com entrada do barco no mar. A tradição era ser empurrado na areia e depois quebrar a onda. É por isso que têm o formato de “meia-lua”. Agora os barcos têm rodas e vão com elas para o mar.
Os grupos de pescadores que ainda fazem esta arte são as companhas e são liderados pelo arrais. Na Praia da Tocha há duas companhas mas Paulo Delgado antecipa o risco de extinção desta actividade a médio prazo porque os pescadores têm alguma idade e são poucos os que estão disponíveis para se iniciarem nesta profissão.
A actividade da pesca tem riscos elevados e o proveito é reduzido (além de sazonal). Por outro lado, esta região sofreu uma forte vaga de emigração.
São factores que podem levar à extinção da arte xávega na Praia da Tocha, tal como sucedeu em outros locais e onde a reminiscência desta arte de pesca é mais para fins turísticos.
Mais difícil é a salvaguarda de um prato típico daqui: a batata assada na praia.
Não é preciso sal, a areia onde é feito o prato dá o tempero. O problema é que é proibido fazer fogueiras na praia. A alternativa é levar a areia para outro lado ou aproveitar um evento realizado pela Associação de Moradores de Praia da Tocha que organiza todos os anos em Agosto com sardinha asada na telha e batata assada na areia.
A Associação de Moradores da Praia da Tocha é muito dinâmica, organiza ainda a mostra de Curtas-Metragens Marmostra e gere também o Centro de Interpretação da Arte Xávega.
É um espaço que fica em frente do areal e onde existem muitos materiais que ajudam a explicar o que é arte xávega, como se fazia há várias décadas e a evolução que sofreu. Há também fotografias e pinturas que ilustram o dia-a-dia da comunidade piscatória.
O Centro Interpretativo é da Câmara Municipal de Cantanhede que tem uma outra estrutura pública interessante: uma biblioteca no interior do areal.
A praia é muito extensa. Tem uma areal grande e também uma zona com dunas. Nos últimos anos foi galardoada com a Bandeira Azul e qualidade de ouro. Há um parque de campismo na entrada da área urbana.
A Praia da Tocha é como as dunas faz parte do podcast semanal da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
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