A linha do Tua era uma das linhas ferroviárias mais bonitas do Mundo. Infelizmente, o tempo verbal utilizado é o correcto. A história desta linha é uma história de glória e esforço humano, por parte daqueles que tiveram a visão de uma linha no vale do Rio Tua, e daqueles que à força de braços construíram uma verdadeira obra-prima de engenharia.
O primeiro troço, de Tua a Mirandela, entrou ao serviço em 1887, tendo a linha sido concluída com a inauguração do troço até Bragança, em 1906. No seu auge, a linha perfazia 134 quilómetros. Mas esta história não teve um final feliz. Com a entrada de Portugal na CEE, os constrangimentos e interesses das redes rodoviárias fizeram com que a pressão para acabar com linhas ferroviárias com pouco retorno económico fosse simplesmente demasiado. O troço de Carvalhais a Bragança foi encerrado em circunstâncias lamentáveis em finais de 1991.
Em 1995, foi inaugurado o Metro de Mirandela, efectuando o troço entre Mirandela e Carvalhais. A partir de 2001, o Metro passou a explorar o troço de Tua a Mirandela por concessão da CP. No entanto, a circulação entre o Cachão e Tua foi encerrada após a ocorrência de acidentes em 2007 e 2008, tendo os comboios sido substituídos por táxis. Hoje a própria existência física da linha está posta em causa pela construção da Barragem do Tua e consequente inundação de parte da linha quando a albufeira da barragem encher e o nível da água do rio subir.
Mas o turismo ainda tem uma palavra a dizer neste processo longo e tortuoso. É possível ainda percorrer a linha do Tua a pé e contemplar a paisagem magnífica e a forma como o comboio tinha uma relação de simbiose com o terreno. Foi isso que nós fizemos e é isso que queremos que se continue a fazer. Desde o Cachão, ao longo de 41 kilómetros, cruzamos pontes de ferro, caminhamos sobre o que restam dos carris, passando por piscinas naturais que convidam a banhos de rio. Até as pequenas termas de São Lourenço definharam com o encerramento da linha. Durante dois dias percorremos o percurso que leva até à foz do Tua, acompanhando o rio e o seu magnífico vale escarpado, povoado de pequenas estações de comboio e tunéis abandonados.
É ainda possível fazer pressão sobre as autoridades mundiais no sentido de fazer parar um projecto de construção de uma barragem que irá alterar profunda e irreversivelmente uma paisagem que é Património da UNESCO. A Herdade do Esporão lançou uma campanha online onde pode juntar a sua voz à nossa e à de milhares de pessoas que tentam travar a construção da barragem e a preservação deste património. Pode ser que ainda não seja tarde de mais para a linha do Tua, para o Douro, e para as suas gentes, tão necessitadas do turismo como fonte de rendimento e reconhecimento.
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