O momento parecia sugerir uma grande revelação, não fosse a pá rachada e a escova gasta pelo sol. Ana Ravara usa as ferramentas para remover a camada de areia que cobre um pequeno quadrado no pavimento de uma villa romana do século IV, hoje uma estação arqueológica nas imediações da povoação do Rabaçal, em Penela.
Aquilo que a técnica de conservação dá a ver, ao grupo de visitantes reunido em sua volta, é o Verão, ou melhor, o rosto feminino que representará a estação do ano, formado por coloridos mosaicos mais pequenos que a ponta de um dedo. É só um “cheirinho” da maravilha arqueológica que o local encerra. A areia protege mais três quadros para as restantes estações do ano, embora a decisão para destapar a figura associada ao estio pareça especialmente apropriada numa tarde acalorada de setembro no distrito de Coimbra.
Descoberta oficialmente em 1979, a villa romana (e o espaço-museu associado) é um dos principais motivos de interesse para visitar o Rabaçal, a par do seu queijo curado de cabra e ovelha, cujo característico travo tem origem nos pastos espontâneos de erva aromática de Santa Maria que abunda na região, incluindo no olival da estação arqueológica.
O ponto alto da visita é mesmo a revelação do exuberante pavimento, que é a parte mais bem preservada da antiga moradia de luxo, da qual atualmente só é possível vislumbrar o traçado das suas paredes, como uma planta de arquitetura desenhada em pedra. Ainda assim, não é precisa muita imaginação para perceber a dimensão e sumptuosidade das suas divisões, a começar pelo pátio octogonal que devia impressionar, logo a abrir, os visitantes.
É nesta ala do edifício, à entrada do triclinium (assim chamado por ser o espaço onde os romanos tomavam as suas refeições reclinados), que foram encontrados os quadros das estações do ano. A sua representação era um elemento relativamente comum nas grandes habitações romanas, embora as da villa do Rabaçal se destaquem pela sua “perfeição artística” e bom estado de conservação. Enquanto não houver melhor forma de as expor aos visitantes, porém, vão permanecer protegidas debaixo de uma camada de areia.
Tal como acontece hoje com a avaliação de um imóvel, a localização é essencial para compreender o que faz aqui esta opulenta e isolada villa romana, rodeada por um olival no meio do vale do Rabaçal. A região foi povoada durante o domínio romano (o local fica a 12 quilómetros de Conímbriga) e ficava na rota da antiga via que ligava Olisipo (Lisboa) a Bracara Augusta (Braga).
As dezenas de moedas ali encontradas apontam para que a villa tenha sido habitada por algum tempo entre os séculos IV e V depois de Cristo. Cerâmicas “de grande qualidade” recuperadas no local ajudaram a completar o retrato do conforto em que viviam os seus habitantes.
Como visitar
O preço de um bilhete normal no museu da villa romana do Rabaçal é de 2,60€ e inclui a visita à estação arqueológica (a pouco mais de 1km de distância). Podem provar e comprar o característico queijo da região mesmo em frente ao espaço-museu.
O SAPO Viagens visitou a villa romana do Rabaçal a convite do Turismo Centro de Portugal.
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