As arribas são de tal forma altas e verticais que só vemos o rio quando nos aproximamos da beira dos penhascos (ou penhas) e alguns ultrapassam os 100 metros de altura.
A serenidade do rio não anula a percepção de uma paisagem arrepiante que nos exercita a controlar o medo. Mas nada se compara com um grupo de jovens que praticava slackline. A fita elástica com alguns centímetros de largura e com mais de 200 metros de comprimento unia as duas margens e era por onde caminhavam.
Benoit Humm já tinha feito a travessia e disse que “é como flutuar ou voar, ter a sensação das aves num território que lhes devia pertencer em exclusivo”.
No miradouro a fita foi presa num rochedo à beira da falésia e o acesso era relativamente fácil.
No lado espanhol era mais difícil, com uma descida íngreme até ao ponto de amarração. E também de partida. Era ali que começava a travessia. Um a um e demorava longos minutos. Quase sempre com paragens e algumas quedas. Um cabo preso à perna evitava o mergulho fatal.
Tiveram de esperar três dias para a montagem da fita devido ao vento e não deve ter sido fácil porque é muito difícil descer a arriba a partir do miradouro. "Você segue aqueles carreiros, que aquilo está cheio de carreirões, até onde possa chegar e olha por ali abaixo. Mas aquilo até dá medo de olhar por ali abaixo porque é uma altura do catano. Ali só chega à capela, porque da capela para baixo, direito ao rio, não passa".
A opinião é de três idosos – Silvestre Romeiro, Roberto Pires e Lázaro Cordeiro – que encontrei na Paradela e que conhecem bem as arribas junto à Aldeia Nova. “Tem a capela de S. Joanico que é também onde está o castro, antes de descer para o rio. A vista é muito boa. Como andaram a arranjar aquilo a vista é muito boa”.
A descrição é da capela e do castro de S. João das Arribas que ficam ao lado do miradouro.
O lugar dista a pouco mais de 800 metros de Aldeia Nova (ou Aldinuoba, a designação em mirandês, como está escrito na placa à entrada da povoação).
Ao longe, quando se percorre o caminho a partir da aldeia, estamos no alto de uma encosta e temos uma vista que nos dá uma percepção alargada de toda esta zona, de como é rude, selvagem e há muito que o homem desistiu de a desbravar. A paisagem é dominada por uma imensidão de rochas de granito e vegetação rasteira que cobrem amplas ondulações de terra.
A capela é o que marca a presença humana. Foi construída em 1833, foi recentemente restaurada e tem duas inscrições na fachada. Uma delas refere que no local foi encontrado o túmulo de Balesus Abanina, um romano que foi porta-bandeira do imperador Adriano na expedição a Inglaterra no século II. O castro tem a origem atribuída à Idade do Ferro e os trabalhos arqueológicos revelaram ocupação entre os séculos III e IX.
A Aldeia Nova e o miradouro de S. João das Arribas pertencem ao concelho de Miranda do Douro e integram o Parque Natural do Douro Internacional.
Miradouro de São João das Arribas “mete medo porque tem uma altura do catano” faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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