O complexo de Ílhavo tem ainda a particularidade da componente museológica partilhar o espaço com a fábrica e o bairro operário.
A instalação fabril de porcelana é discreta e está ao lado do museu que sobressai com a chaminé do forno que esteve a laborar até 1980.
O museu tem entrada pelo terreiro que mais parece um pátio protegido pela capela. Há ainda o teatro, as lojas e o hotel.
Ao longo do percurso no museu o visitante apercebe-se dos requisitos e da especialização do trabalho em porcelana porque em alguns casos funde-se o espaço museológico com a fábrica. Por exemplo, na área da manufactura há vários pintores a executar a decoração de peças.
No museu vemos vários estilos e influências no design e na decoração de milhares de peças.
Um acervo que está sempre a aumentar.
Machado Matos foi o nosso cicerone e não é apenas o director do Montebelo Vista Alegre. É também um profundo conhecedor da história e dos atributos técnicos da porcelana e da Vista Alegre.
Em breve vai ser acrescentada uma colecção de mais de uma centena de cães em porcelana. São o trabalho de pintores seleccionados para as residências artísticas. Concorrem dos cinco continentes, têm o apoio técnico da Vista Alegre e são livres de criarem o objecto que entenderem. No entanto, são todos obrigados a decorar um cão em porcelana. A colecção revela uma grande diversidade e criatividade artística.
O museu conta ainda a história da fábrica e da porcelana em Portugal. A fábrica começou a funcionar em 1824. No entanto, na primeira década só produziu vidro e cristal porque faltava introduzir o caulino.
Apuradas as matérias primas passou a produzir porcelana e até aos dias de hoje é uma das mais reputadas marcas internacionais neste sector.
Por outro lado, o complexo Vista Alegre em Ílhavo revela também uma marca social de José Ferreira Pinto Basto, o fundador da Vista Alegre que criou o bairro operário, escolas, creches, centro de saúde, bombeiros…
A renda da casa era um dia de trabalho por mês. De certa forma esta renda mantém-se até aos dias de hoje.
Ainda trabalham 650 pessoas na fábrica mas nem todas residem no bairro operário. Algumas destas estruturas ainda hoje funcionam.
É o caso do teatro que ao longo do tempo serviu para bailes, exibições da Filarmónica e a descoberta do cinema.
O teatro foi inaugurado apenas dois anos após a abertura da fábrica. Esta preocupação com os trabalhadores foi uma das marcas de José Ferreira Pinto Basto.
No museu podemos ver algumas das tamancas usadas pelos trabalhadores e que reciclavam materiais da fábrica. Muitos andavam descalços mas tinham de se calçar para entrar na área de produção fabril. As tamancas eram feitas de madeira e de correias das máquinas.
No museu também se pode ver o cantil que fazia parte do equipamento do Batalhão Vista Alegre que foi uma unidade criada por José Ferreira Pinto Basto, um liberal que lutou ao lado de D. Pedro IV.
Machado Matos diz que José Ferreira Pinto Basto era também um “cristão profundo” e ficou deslumbrado com a capela que já existia nesta propriedade antes da fábrica.
A capela está classificada como Monumento Nacional. Foi mandada construir no século XVII por um bispo e é onde estão os seus restos mortais.
A capela é grande e profusamente decorada. É dedicada a N. Senhora da Penha de França e é o local de encontro da romaria anual.
A estrutura mais recente é o hotel e também está integrado na temática da cerâmica e da Vista Alegre.
Além de integrar a antiga casa de habitação da família Pinto Basto, tem três pisos novos e cada um corresponde a uma fase do fabrico da porcelana.
O rés do chão tem várias instalações e é dedicado ao forno e moldes. O piso seguinte é o branco, como fica a porcelana depois de cozida. O piso três tem como tema a decoração e a pintura da porcelana.
No rés do chão do hotel foram preservadas algumas ruínas do sistema de fornecimento de água e está a Fonte do Carapichel que é um dos segredos bem guardados. Foi mandada construir em 1696 e está envolta em várias lendas milagreiras. O texto que está no frontispício da ponte termina com uma frase em que convida as pessoas a provar a água e diz:
“bebe, pois, bebe à vontade
acharás que é (muitas vezes)
tão útil para a saúde
quão para a vista alegre”
Complexo de Ílhavo “tão útil para a saúde quão para a Vista Alegre” faz parte do programa Vou Ali e Já Venho da Antena1 e pode ouvir aqui.
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