Inaugurada em 1991, a mostra que ocupa as antigas instalações da padaria do rei, dá a conhecer antigos ofícios e modos de vida que hoje se tornaram passado.
As ruas estreitas, ladeadas de casas brancas, lembram o Alentejo. No verão, o calor concentra-se entre as fachadas que parecem brincar com o estio, empurrando-o de um lado para o outro. O convite para entrar dentro das muralhas da cidade fortificada de Olivença é irrecusável pela frescura que o aproximar da porta faz antever.
As altas paredes de pedra são suporte à palavra Museu. Damos início a uma viagem pelos costumes oliventinos expostos no Museu Etnográfico Extremenho González Santana. Salas amplas guardam um acervo de mais de três mil peças. A visita inicia-se pela vida agrícola.
Observamos ferros para marcar os animais, um arado que seria puxado pelas bestas para lavrar a terra, medidores de cereais em madeira. Vemos uma choça, uma casa com estrutura de madeira e cobertura com buínho do Guadiana, servia de abrigo para os pastores na transumância do pastoreio de ovelhas e cabras.
A ideia de um museu começou em 1980, durante a organização de uma exposição etnográfica promovida no âmbito da IV Semana da Extremadura. Oito anos mais tarde começaram as obras do edifício onde hoje está o museu oliventino, tendo sido inaugurado em 1991.
O largo corredor é percorrido de um dos lados com arcos, como montras de uma loja, expõe-se uma mercearia local. O proprietário do estabelecimento, quando a idade já não o permitia, fechou as portas e doou a loja, tal como era, ao museu. Aqui se mantém, relembrando locais onde se vendia tudo. Nos arcos seguintes há um ferrador, um alfaiate, o sapateiro. Cada espaço tem as peças expostas ao pormenor, com um pouco de imaginação quase sentimos a presença do ferrador ou do sapateiro, o burburinho da rua e as conversas do quotidiano. Entre as quatro paredes seculares ganham vida profissões cada vez mais raras.
Do lado oposto, a casa da música, revela instrumentos antigos e dá destaque a artistas da terra. Ao sair do espaço musical, deparamo-nos com pequenas estantes que expõem cerâmicas. Não seria de estranhar, se estas peças não fossem em tudo semelhantes às conhecidas cerâmicas Bordalo Pinheiro, fabricadas nas Caldas da Rainha. Eram de um português que viveu muitos anos aqui em Olivença.
As escadas ligam o rés-do-chão ao primeiro andar, onde mais realidades de outros tempos aguardam o deslumbramento dos visitantes. A casa humilde é porta de entrada. O quarto, com cama de ferro, bacia de latão esmaltada a branco, os trajes, gastos pelo Sol de outros tempos. A sala, que não denota outras distrações a não ser uns bordados. Fecha-se um ciclo para abrir outro: a casa dos ricos. Além do quarto e da sala, faustosamente decorados, com retratos, frascos de perfume e bonecas de porcelana, é no escritório que se soltam mais comentários. A secretária de madeira preta é albergue de uma caneta de pena e de máquina de escrever.
Noutro móvel, uma grande máquina de calcular faz contas aos anos em que deixou de trabalhar e viu o seu lugar ser ocupado por utensílios, metade do seu tamanho, mas com a mesma finalidade. Passamos para outra área do museu. Aqui retoma-se a exposição do rés-do-chão. A escola primária, com secretárias de madeira unidas entre a mesa e o banco, o quadro de ardósia e mapa pendurado da parede, a tipografia, o dentista. Na profissão de cuidar dos dentes alheios a evolução dos tempos é notória. Grandes ferramentas terão arrancado dentes de oliventinos, relembrando que, provavelmente, sem recurso a anestesia.
A exposição faz-se, ainda, com uma mostra de trajes antigos, arte sacra, vestígios de povos milenares descobertos em algumas obras do município e subsequentes escavações arqueológicas. Há, também, maquetas da muralha e da Ponte da Ajuda, mandada construir por D. Manuel no início do século XVI para facilitar a comunicação entre as duas margens do Rio Guadiana.
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