Foi uma das mais conhecidas estações da Linha da Beira Baixa no troço que namora o Tejo.

Algumas décadas atrás, quem viajava no comboio da Linha da Beira Baixa, ainda se recordará de duas a três estações onde, no verão, apareciam mulheres com bilhas a vender água nos breves minutos da paragem do comboio. Água fresca que se tinha de engolir depressa, para devolver a bilha, antes do apito da locomotiva.

Uma era a de Amieira, outra, a de Fratel, no concelho de Vila Velha de Ródão.

“A loja do Aparício também vendia as bilhas de água, de barro, feitas em Nisa, quando o comboio passava”.

Fratel - estação
Fratel - estação

Domingos Boleto refere ainda “o despacho de encomendas a partir de uma central” e, por exemplo nesta altura do ano, “como era uma zona de muito azeite também se despachavam bidões com 100 ou 200 litros de azeite. A estação do Fratel tinha muito movimento.”

Fratel - estação
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Domingos Boleto é natural de Fratel e guarda com orgulho a memória da estação.

“É muito linda. Eu como fratelense tenho muito orgulho na minha estação. Fui lá muitas vezes apanhar o comboio. Trabalhei na CP entre 1966 e 1970. Depois, fui para a Marinha e não havia carro. Usava sempre o comboio. Eu, a família e quase toda a gente.”

Fratel - estação
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Hoje quase tudo mudou. Mantém-se a beleza natural com a estação de frente para o Tejo e a linha do comboio vizinha do rio. No entanto, a estação é um vazio de silêncio onde apenas o relógio marca o movimento.

É fortuita a passagem de comboios e mais escasso ainda o número dos que param.

Fratel - estação
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A estação remonta aos finais do século XIX, como também as instalações sanitárias que estão ao lado. Próximo está um edifício entaipado. Era onde dormiam os trabalhadores da estação.

Fratel - estação
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Ao longo da linha, encontramos outras casas, mas estão quase todas em ruínas, “duas eram tabernas e outra era uma mercearia que abastecia pessoal que vivia nas casas da estação.”

Fratel - estação
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A estação fica a cerca de 5km do Fratel.

A estrada oferece vistas surpreendentes, não tem continuidade e no passado recente era permanente o vai-e-vem na aldeia, como também na travessia do rio.

“Era a principal estação desta zona. O Alto Alentejo, como o Arneiro, Monte do Duque, Santana... recorriam a esta estação. Como também as muitas povoações da freguesia de Fratel.”

Fratel - estação
Fratel - estação

Domingos Boleto ainda se recorda do transporte de carros com animais. Muitos levavam mercadorias. “Eram burros, carros com cavalos, machos... era o transporte para a estação. Evitavam pagar táxi e, por outro lado, alguns tinham mercadorias muito pesadas.”

Fratel - estação
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O barco para o Arneiro também transportava mercadorias. O que surpreende porque o caminho não é fácil.

Saímos do cais ferroviário, contornamos uma figueira e, de seguida, é uma descida muito íngreme, de terra batida, até ao ancoradouro.

Fratel - estação
Fratel - estação

Uma pequena proteção de madeira evita que quem escorregue vá cair no rio.

“E agora está um pouco melhor. O caminho era mau e as pessoas levavam cabazes e sacos às costas... era o que havia.”

Fratel - estação
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Ainda hoje se pode fazer a travessia de barco, mas temos de combinar com o barqueiro, ele já não vai esperar pela paragem do comboio.

Há cada vez menos passageiros. “O declínio começa no início dos anos 80. A CP começa a fechar estações e há menos gente devido à emigração.”

Fratel - estação
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A desertificação e a construção de vias rodoviárias são apontadas como outros motivos para esta mudança, na opinião de Diamantino e Maria Ramos. Falei com eles próximo de mós de pedra que evocam os antigos lagares do Fratel.

Fratel - estação
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Recordam-se da série televisiva a Estação da Minha Vida e do tempo em que muitas pessoas passavam no largo. “Havia muita gente, agora não. Há aqui uma autoestrada e vão de camioneta diretos até Lisboa.”

A autoestrada permite um acesso rápido à aldeia.

Fratel - estação
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A estrada até à estação é diferente. É para se descobrir com calma, mesmo quando numa das casas, talvez para evitar o vandalismo, alguém escreveu em letras enormes: cuidado, dono atento.