O Alentejo, com a sua vasta extensão de planícies onduladas e clima caracteristicamente seco, proporciona um ambiente propício ao aparecimento de diversas espécies de aves. As aves estepárias, das quais temos 10 espécies em Portugal, são conhecidas pela capacidade de habitarem áreas abertas e semiáridas e encontram em Castro Verde um habitat ideal.
É precisamente nesta região que podemos encontrar 80% da população destas aves no nosso território. Localizada a 170 km de Lisboa, a vila destaca-se pelas suas vastas planícies, importância ornitológica e presença de vestígios históricos romanos e árabes. A pastorícia extensiva destinada à produção de azeite, vinho e cereais é um dos principais factores para o surgimento de algumas destas espécies, que muito precisam destes mosaicos lavrados ou em pousio.
A abetarda apresenta um acentuado dimorfismo sexual, destacando-se os machos pela sua constituição corporal mais pesada, podendo ser de duas a quatro vezes superior, e pela dimensão, que é 30 a 50% maior em comparação com as fêmeas. Os machos adultos desta espécie podem atingir até 14 kg e exibir uma envergadura de 260 cm. Devido a esta presença imponente, é frequentemente considerada a "rainha das estepes", sendo que março marca o início das impressionantes exibições nupciais. A coloração das penas é de tonalidade castanha, enquanto o pescoço apresenta uma tonalidade esbranquiçada. Devido ao seu comportamento extremamente desconfiado, as abetardas raramente se deixam avistar de perto, tornando difícil a observação destes detalhes específicos. Castro Verde é o local em Portugal onde podemos encontrar metade (cerca de 500 indivíduos, segundo o Aves de Portugal) da sua população.
O sisão é uma ave singular, caracterizada pelo pescoço escuro e pelo seu voo peculiar, assemelhando-se a uma abetarda em ponto pequeno e frágil. O macho, na época nupcial, distingue-se facilmente pelo pescoço negro com listas brancas, enquanto a fêmea apresenta uma coloração acastanhada. Infelizmente, esta espécie enfrenta vários desafios para manter a sua população estável, chegando mesmo a estar em perigo de extinção em Portugal. Esta redução está intimamente ligada à mecanização da agricultura e ao recurso a práticas agrícolas intensivas. Esta espécie beneficia de uma gestão agrícola baseada no cultivo extensivo de cereais, através da criação de um mosaico de habitats que inclui pousios, searas e áreas cultivadas.
Estas são as duas espécies mais emblemáticas desta região, onde as práticas de monoculturas intensivas constituem desafios, entre outros, à sua presença. A conservação destas espécies e dos seus habitats deve ser uma prioridade essencial para garantir a sobrevivência e o equilíbrio do ecossistema peculiar e único do Alentejo.
Podem seguir as caminhadas e experiências fotográficas do Guilherme no seu blog, Raw Traveller, onde uma versão deste artigo foi publicada originalmente, e no instagram.
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