O livro intitula-se "Lisboa Entre os Tempos" e parte das fotografias da capital tiradas por Horácio Novais (ativo entre 1930 e 1988) "para conseguir mostrar numa só fotografia o passado e o presente da cidade de Lisboa". Colocámos algumas perguntas à Andreia sobre o seu projeto e as diferenças que encontrou.
SAPO Viagens: Como surgiu a ideia para este livro de fotografia sobre Lisboa?
Andreia Costa: Esta ideia surgiu em conversa com o amigo, fotógrafo e professor Marcello Cavalcanti (Carioca) que reproduziu este mesmo projeto na cidade do Rio de Janeiro – Brasil. O paralelo entre os projetos é óbvio e notório, mas cada um deles possui características distintas na execução, o que acaba por se complementar mutuamente.
Da ideia à conclusão, quanto tempo passou? Como descreveria o grau de complexidade da sua elaboração?
O tempo total dedicado ao livro foi de quase um ano. Não foi um projeto fácil de realizar por tudo aquilo que engloba. O que ainda me deu mais vontade de o concretizar. A primeira coisa a ser feita seria arranjar um fotógrafo que tivesse fotografado a cidade de Lisboa com uma visão panorâmica e não apenas uma rua, uma porta ou um edifício isolado. Esse tipo de imagens não dava para realizar este projeto.
Existiram vários fotógrafos que fotografaram a cidade no século passado, mas outro dos problemas que me deparei foi que precisava de alguém que tivesse um número de fotografias considerável para conseguir fazer uma escolha de pelo menos 50 imagens. Após a seleção do fotógrafo, estava na hora de escolher as imagens e ver aquelas que ainda eram possível de ser reproduzidas e ainda como iria conseguir ter os direitos de autor dessas mesmas fotografias. Foram muitas horas de pesquisa para ver quais as mais impactantes e que seriam possíveis de concretizar.
Confesso que a parte de fotografia e edição para mim foram as mais fáceis. O mais difícil do projeto em si foi mesmo conseguir autorizações. As autorizações de cedência de direitos de autor das imagens de Horácio Novais e as autorizações para aceder a lugares restritos ou privados. Sensivelmente, 25 fotografias das 60 escolhidas, tiveram que ter autorização de instituições, hotéis, edifícios governamentais, casas particulares e bancos, de forma a conseguir reproduzir a mesma imagem 100 anos depois.
Felizmente consegui todas as autorizações que foram pedidas. Umas mais demoradas do que outras. Sem elas não era possível ter algumas das imagens mais impactantes e marcos da cidade de Lisboa neste livro.
A melhor parte foi partir para o terreno e fotografar?
Adoro fotografar, mas confesso que a parte da edição desta vez superou a parte da fotografia no terreno. As imagens deste livro são uma mistura entre a imagem de Horácio Novais e a minha fotografia exatamente do mesmo lugar. Foi da minha responsabilidade ver o que ficava na imagem final. Tive sempre presente que o que queria mostrar em cada fotografia seria como a cidade havia mudado e evoluído ao longo de 100 anos. Por isso foi um desafio, imagem a imagem, escolher o que era realçado.
Parece um processo fácil, porque muitos dos edifícios e ruas continuam as mesmas, mas quando temos duas imagens lado a lado, tiradas do mesmo lugar com 100 anos de intervalo, percebemos que há muitas coisas que se modificaram e às vezes é difícil escolher o que mostrar. Ver estas imagens produzidas em livro é convidar as pessoas a que se deixem levar pela experiência de viajar pelo portal do tempo.
Que critério(s) aplicou na escolha das fotografias e lugares retratados? Teve ajuda nessa escolha?
Conforme dito anteriormente, queria um fotógrafo que tivesse no seu acervo fotografias panorâmicas da cidade. Tentei ao máximo escolher pelo menos uma fotografia de cada lugar emblemático.
Horácio Novais tem imensas imagens do que é hoje chamado o centro histórico. Na época, o centro da cidade era, por exemplo, lugares como o Chiado, Terreiro do Paço, Avenida da Liberdade ou Restauradores, mas precisava de imagens que mostrassem como eram outras zonas, que hoje em dia, com o crescimento, são agora o centro de Lisboa, como a Praça de Entrecampos, Saldanha ou Alvalade.
Na base deste projeto está o trabalho e arquivo de Horácio Novais. Como se cruzou com as suas fotografias?
Sempre fui fascinada por fotografias antigas de vários autores. Cruzei-me com uma fotografia de Horácio Novais sobre Campolide num grupo de uma rede social onde existem várias fotografias antigas sobre Portugal. Achei algumas delas interessantes e fui procurar quem tivesse o acervo do mesmo para ver mais imagens. Muitas dessas fotografias infelizmente não se sabe o ano nem quem é o autor, o que dificulta a pesquisa.
Desta comparação entre o passado e a atualidade de Lisboa, que diferenças lhe saltaram mais à vista?
O desenvolvimento urbano é claramente notável em quase todas as zonas da cidade retratadas no livro mas, a questão da mobilidade para mim é a que salta mais à vista. Temos imagens onde se podem ver carroças puxadas com burros ou cavalos em plenas ruas de Lisboa. Poderia ainda referir a questão social. Existem muitas imagens onde se vê meninos vestidos como se fossem homens adultos e mulheres que atualmente não se vêm assim vestidas nas ruas.
Ocorre-lhe algum aspeto da Lisboa antiga em que tenha reparado que gostasse de trazer para a Lisboa atual?
Penso que mais lisboetas.
Todas as pessoas que moram em Lisboa ou que andam pelas ruas nos dias de hoje deparam-se com um mar de turistas. Não estou a dizer que seja mau. Tem as suas coisas boas e más como tudo, mas o que noto é que neste momento a cidade de Lisboa é mais virado para o turista estrangeiro do que para o lisboeta.
Há algumas imagens onde se conseguem ver grupos de pessoas a serem turistas na sua própria cidade e hoje em dia já não se vê muito isso quando se vagueia por Lisboa.
Como fotógrafa, como se relaciona com Lisboa? Qual é o lugar/zona da cidade que mais gosta de fotografar?
Sou fotógrafa de paisagem e natureza e sempre que tenho oportunidade viajo para os lugares mais inóspitos para conseguir imagens que mostrem a grandeza que existe no planeta Terra. Desde montanhas, cascatas ou áreas desertas.
Sou impulsionada por paisagens intocadas e destinos remotos.
Um dia, deparei-me que apesar de ter imagens sobre Lisboa, não tinha feito nenhum projeto fotográfico importante sobre a cidade ou na cidade, que me viu crescer, o que viria a ser um desafio.
Tenho vários pontos que gosto de fotografar, por exemplo, o Miradouro Sra. do Monte que dá uma imagem panorâmica sobre Lisboa ou o Miradouro do Alvito que se consegue ver a cidade sobre o rio Tejo.
O lançamento do livro "Lisboa entre os tempos" será dia 5 de dezembro, já estando em pré-venda aqui.
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