Cármen Vizinha é quem os escreve para o grupo do Rancho Folclórico Flor do Alto Alentejo que tem a sede próximo da cidade de Évora.
As Brincas é uma prática que remonta ao século XIX e que, agora, tem três grupos. “Nós, o grupo de adultos do Canaviais e a Escolinha de Brincas dos Canaviais.”
São as coletividades que matêm a tradição poipular que no passado juntava muitos mais grupos.
Carmén Vizinha cita “os do bairro de Almeirim, que era um bairro icónico das Brincas, na Pera Manca, Graça do Divor, Nossa Senhora de Machede, bairro das fadas... havia imensos". São todos bairros periféricos da cidade, “até porque as Brincas não tinham ordem de entrar dentro das muralhas. Como era um teatro de rua, era censurado e não permitiam entrar dentro das muralhas.”
Hoje é bem diferente. Há eventos, exposições e até são convidados para atuar nos Paços do Concelho e na Praça do Giraldo. A tradição é as atuações serem na rua rua. Envolvem a comunidade local representada pelo Dono da Rua que recebe os foliões e autoriza o mestre do grupo a dar início à Brinca.
“Todas as brincas se passam com a ordem do mestre, o mestre é que comanda todo o grupo. Todos os elementos têm um instrumento musical para tocarem. Há uma ordem própria, é tudo a toque do apito do mestre. É feita uma dança e contradança, tudo comandado pelo mestre que pede autorização ao proprietário da rua. Dada a autorização, o grupo forma e começa a fazer o teatro dentro da roda. As cenas, a musica os diálogos são todos ensaiados.
Hoje o fundamento é escrito mas no passado era mais complicado. “Antigamente quando as pessoas eram mais iletradas era tudo verbal. Era o mestre que ensinava as décimas aos elementos. Neste momento, e já de há uns anos para cá, é tudo escrito.”
Os fundamentos que Cármen Vizinha escreve têm em conta a atualidade e versam a critica social de âmbito nacional. “O fundamento só é conhecido quando sai à rua, a primeira vez. O mestre apresenta o grupo quando chega à rua, apresenta o fundamento e as personagens. A partir daí é só tomarem atenção para se perceber como se desenrola a história, perceber a moral da história.”
Os atores, trajados a rigor e de acordo com o tema, estão num círculo e avançam quando chega a vez de participarem na narrativa. Há também músicos e foliões que funcionam também como ponto, quando alguém se esquece das décimas que tem um ritmo próprio e sem hesitações.
As Brincas têm lugar durante quatro dias. Começam na manhã do sábado de carnaval e terminam na tarde de terça-feira de carnaval. Este ano o grupo do Rancho Folclórico Flor do Alto Alentejo conta com mais de duas dezenas de elementos.
“No nosso grupo são muitas. Mas há outros grupos que findaram por falta de pessoal. Nós, com o rancho na retaguarda, temos muitas pessoas. Este ano vamos sair à rua com 22 pessoas.”
E esperam ter a mesma receptividade de anos anteriores. “As pessoas gostam. Em Évora não existem comemorações carnavalescas. A Brinca de carnaval é a única que sai à rua e é só nossa. As pessoas alinham um pouco na brincadeira e gostam.”
Na rua da sede do rancho também há todos os anos, o Dono da Rua. É na terça-feira de Carnaval. “Temos o grupo dos Canaviais que vem atuar no nosso bairro. Por norma somos os primeiros a atuar e depois é a vez do grupo dos Canaviais. É um dia de confraternização. É na terça-feira, no final.”
A expectativa de Carmen Vizinha e de outras pessoas que gostam das Brincas é que a tradição não acabe e que a Escolinha seja um embrião para outros grupos. A escolinha é na Casa do Povo dos Canaviais, nos tempos livres. “São miúdos de várias escolas que estão ali nos tempos livres e que depois entram no projeto da escolinha de Brincas. É possível que se dissemine por outras escolas e motive outros grupos”.
Brincas carnavalescas de Évora faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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