No interior do Café Milenário, os clientes, sentados em cadeiras de madeira e com mesas com tampo de vidro, olham para o exterior a sentir a cidade que está na origem do nome.

Café Milenário
créditos: andarilho.pt

“O café foi inaugurado em 1953, ano do milenário da cidade, e é por isso que tem o nome de Café Milenário".

Interrompi a leitura do jornal a Alberto Dinis porque me deram a indicação de que era um cliente habitual do café. “Desde os meus 14 anos que frequento o café. Ainda jovem tomávamos o café e íamos jogar bilhar num salão que havia no primeiro andar.”

Café Milenário
Alberto Dinis créditos: andarilho.pt

Alberto Dinis estava sentado próximo de uma parede com muitos espelhos. Escondem uma pintura com corpos nus, um sinal de modernidade que não foi bem acolhido. Durante muitos anos, o Milenário foi frequentado pela elite local.

“Por volta de 1973 o café tinha tanta clientela que nas horas de maior afluência havia cinco empregados nas mesas. Era muito frequentado por comerciantes, industriais, empresários e bancários que faziam aqui o seu segundo escritório.

Café Milenário
créditos: andarilho.pt

Recordo-me que à sexta-feira, quando da nossa feira semanal, era costume ver aqui os empresários das madeiras, construtores civis... sempre a conversarem sobre os seus negócios.”

Muito do mobiliário onde a elite se sentava ainda é utilizado. Algum foi restaurado e permanecem também peças decorativas nas paredes, como esculturas e um painel de cerâmica com motivos alusivos aos Descobrimentos.

Café Milenário
créditos: andarilho.pt

No testemunho de Alberto Dinis, também se preserva a arquitetura de origem, quando o café assumiu a atividade principal.

“Só mudou o balcão, que era mais reduzido e havia um restaurante na cave. Tirando isso, as cadeiras e mesas são as mesmas, contando que algumas foram restauradas, e mantém-se a traça igual a 1953.”

Café Milenário
créditos: andarilho.pt

O pai de Alberto Dinis tinha uma banca de jornais no Largo do Toural. Ele desde miúdo que anda por aqui. Por isso, até se lembra quando o empresário Manuel Fernandes Braga avançou com o café.

“No meu tempo de criança o café estava divido em duas partes.

Café Milenário
créditos: andarilho.pt

Uma era a mercearia do sr. Braga Carvalho e que também servia de escritório da empresa de camionagem Viação Auto-Motora de António Magalhães. Depois, a gerência de então tomou conta da parte da mercearia e alargou o espaço do café.”

Na casa dos 70 anos o Milenário assistiu a grandes transformações sociais e políticas que foram tema de café e uma vez até de uma carga policial.

Café Milenário
créditos: andarilho.pt

Hoje a centralidade é partilhada com outros bairros e mudou o tipo de clientela. “Como a generalidade dos cafés, tem uma clientela reduzida. Há gente, como é o meu caso, que mantém a fidelidade a este café. Outros saíram daqui. A cidade alargou-se a novas urbanizações que têm cafés e deixaram de vir. No entanto, nos domingos e fins de semana é frequente estar aqui muita gente. Alguma de fora de Guimarães que vê como um património cultural.”

Café Milenário
créditos: andarilho.pt

O edifício do século XIX onde está o Milenário destaca-se pelo anúncio luminoso antigo e pela fachada revestida a azulejo azul. Um olhar mais atento descobre ainda uma placa que evoca o local onde nasceu o Vitória de Guimarães.

Café Milenário
créditos: andarilho.pt

“Aqui nasceu” o Café Milenário e o Vitória de Guimarães faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.