Vinho, Saúde, Alegria são as palavras pintadas numa dorna de madeira sobre um carro de bois, um conjunto que há muitos anos fazia o transporte de uvas para a produção de vinho.
Estão próximo da entrada do Museu do Vinho de Alcobaça e, de certa forma, revelam a importância do vinho a nível nacional – foi o produto mais exportado – e antecipam a diversidade e a cultura popular das coleções que vamos encontrar no Museu.
Nas palavras do seu diretor, “é um museu com valências muito diversificadas. Desde a etnografia, à arqueologia industrial, enologia, arte. Tudo o que tenha a ver com vinho tem entrada aqui. Neste aspeto, é uma joia, não só da vinicultura portuguesa, mas podemos ir até à antropologia e arqueologia industrial.
Alberto Guerreiro é responsável pelo Museu do Vinho de Alcobaça e um apaixonado pelo património que há várias décadas começou a ser conservado. O acervo está muito associado à antiga Junta Nacional do Vinho. “Nós temos um contexto de peças fabuloso que vai do século XVII até à contemporaneidade.
Temos autênticas relíquias como as talhas alentejanas, a mais antiga é do século XVII e foi recolhida pelo Paixão Marques e ainda com reminiscências do Batalha Reis nos anos 30. Temos também peças do século XIX que eram da maquinaria da adega original, inclusivamente uma vaporizadora. Como também garrafas dessa época do produtor. Temos ainda peças do século XX e que acompanham o processo da Junta Nacional do Vinho.”
Projetando para o início do fio do tempo narrado por Alberto Guerreiro, “o museu tem origem no final dos anos 60, quando ocorrer uma viragem tecnológica e a Junta Nacional do Vinho decide concentrar em Alcobaça muito material obsoleto ou que já não estava a uso. Filtro, prensas, bombas...
O engenheiro Paixão Marques, em vez de ter abatido esse material, criou aqui um pequeno núcleo museológico. Depois deu-se o 25 de Abril e a Junta Nacional do Vinho estava muito conotada com o antigo regime. Havia sobretudo as infografias muito evocativas do Estado Novo.
Ele recolheu-as e salvou esse património que é riquíssimo para a história económica portuguesa e sobretudo para a história das artes gráficas nacional.” Pelo que já foi descrito, percebe-se a grande variedade do acervo que está guardado em vários edifícios.
O Museu tem mais de 10 mil objetos e até nos sentamos no banco de uma taberna com o balcão tradicional e um minucioso painel de azulejos. Trata-se de uma réplica muito bem conseguida.
Percorremos ainda pavilhões com pipas, corredores decorados com centenas de garrafas e muita maquinaria associada à produção.
É um espaço muito grande, com vários pavilhões, utilizados no passado pela Junta Nacional dos Vinhos. É o maior museu de vinho em Portugal. “Quer em termos de coleções, são mais de 10 mil peças, quer em área física, com cerca de 11 mil metros quadrados. Estamos a falar de três zonas funcionais. A adega dos bolseiros, a adega dos depósitos, a destilaria e a zona de anexos onde temos a taberna e outros núcleos, para além do jardim. É um dos maiores museus do Mundo. Deve estar em quarto ou quinto lugar.”
Todo o contexto está associado à longa história do espaço que há mais de um século é dedicado ao vinho e tem no seu historial o engenheiro Paixão Marques, da Junta Nacional do Vinho.
Teve a inteligência de guardar e preservar material que era recolhido e enviado para Alcobaça. “É o único museu que tem um enfoque nacional. Isto reverte até para uma questão única nível mundial. Em Portugal temos cerca de 40 espaços dedicados a uma marca de vinho ou a uma região ou tipologia de vinhos. Este é dedicado a todo o país.
Inclusivamente, durante muitos anos, foi conhecido como o Museu Nacional do Vinho. É um projeto que nasce ainda no tempo da Junta Nacional do Vinho e depois materializado quando da passagem da Junta para o Instituto da Vinha e do Vinho. É um marco também único. Isto não se passou em França, Espanha ou Itália, para dar exemplos de alguns países com maior referência ao vinho. Nenhum desses países teve um museu nacional.
Portugal teve e até é um projeto antigo, dos anos 30, de António Batalha Reis, que nunca chegou a ser materializado. Depois o Engenheiro Manuel Augusto Paixão Marques, muito autonomamente, conseguiu concretizar no pós-25 Abril até Abril dos anos 80.”
O Museu Nacional do Vinho encerrou em 2007, numa decisão controversa e o projeto só foi retomado em 2012 com o espólio a ser gerido pelo Município de Alcobaça. Mesmo assim, o Museu e o próprio acervo, estiveram em risco porque, entretanto, a administração central colocou as instalações à venda.
O problema foi superado, mas, quase que levava à letra um dos muitos azulejos com ditados populares que enaltecem o vinho e que se encontram nas paredes – "o bom vinho faz bom sangue".
Alcobaça tem o maior museu do vinho em Portugal faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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