As adegas são uma construção típica da ilha do Pico. Têm esse nome porque no rés do chão funciona a adega mas há também construções que servem para habitação e continuam a ter o mesmo nome.

“Estas casas com dupla função tinham habitualmente dois pisos. A adega e o armazenamento das barricas no rés do chão e um ou dois quartos no segundo piso e um espaço para fazerem as refeições”, a descrição é de Mónica Goulart. É arquiteta, faz parte do Gabinete técnico da Vinha do Pico e é também autora de trabalhos sobre a casa rural da ilha do Pico.

Vinhas do Pico
créditos: andarilho.pt

Ela refere ainda que a ocupação das casas como residência por vezes era prolongada, “em especial no verão quando tinham de fazer vários trabalhos na vinha”.

Vinhas do Pico
Instrumentos agrícolas e para o vinho – Adega do Canto créditos: andarilho.pt

Mesmo assim, as casas tinham um mobiliário rudimentar porque eram usadas quase só para dormir.

São pequenas construções. Por vezes dispersas, mas frequentemente junto a zonas urbanas como sucede no caminho do Canto, no concelho de S. Roque do Pico.

Vinhas do Pico
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As divisões são pequenas. No rés do chão encontramos utensílios para o vinho. No primeiro piso quartos com divisórias de madeira. As paredes exteriores são em basalto e não estão rebocadas. O negro do basalto em estado puro. “Como não era habitação permanente não havia o cuidado de rebocar e caiar”.

Vinhas do Pico
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Esta é uma das características das casas. Absolutamente rústicas e muito simples. “A planta retangular e o vão das casas não podia ser muito largo porque se exigia peças de madeira sem grande complexidade de carpintaria. Tudo tinha de ser simples e fácil de fazer e é isso que molda ainda a arquitetura popular da ilha do Pico.

Vinhas do Pico
Vinha em sucalcos de basalto numa encosta créditos: andarilho.pt

Devido às enormes contrariedades o Pico era uma das ilhas mais difíceis de se viver até algumas dezenas de anos atrás”, explica Mónica Goulart como o pragmatismo era a regra e o dia a dia era marcado pela sobrevivência.

Um parte significativa da ilha com plantações de vinha, quase mil hectares, fazem parte de uma área classificada pela Unesco como Património Mundial.

Vinhas do Pico
A vinha está clasificada pela Unesco como Património Mundial créditos: andarilho.pt

O reconhecimento foi em 2004 mas já antes, com a criação da Paisagem Protegida, foram tomadas medidas que ajudaram a preservar as adegas. Talvez a principal diferença em relação ao passado é haver agora uma maior preocupação com a decoração interior quando antes a adega era despojada de qualquer adorno.

Casa do Ramos Grande

Nos Açores há mais casos de arquitetura de casas agrícolas com características muito próprias.

Casa Ramo Grande
Casa típica do Ramo Grande (Ti José Borges) – grande, cantaria com lajes e rebocada créditos: andarilho.pt

Um dos mais conhecidos é a Casa do Ramo Grande, mas aqui tratam-se de lavradores abastados.

Ficam na zona mais fértil da ilha Terceira que no passado era conhecido como o “celeiro”.

Casa Ramo Grande
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É nesta planície do Ramo Grande que fica Praia da Vitória e o aeroporto e a base das lajes. O nome das lajes tem muito a ver com as casas e as pedreiras que permitiram a criação do estilo de habitação do Ramo Grande. São casas de dois pisos com grandes lajes de pedra.

Casa Ramo Grande
Quinta dos Figos créditos: andarilho.pt

Como detalha Raul Rego, proprietário de uma destas casas, “as paredes são grossas, cerca de 80 centímetros de largura, chaminés com formato de “mãos postas”, varandas e com a cantaria trabalhada em pormenor”.

Casa Ramo Grande
Forno no interior da casa do Ramo Grande – Ti José Borges créditos: andarilho.pt

Ainda se encontram muitas destas casas cujo estilo de arquitetura surgiu em medo do século XIX com a reconstrução após o tremor de terra de 1841.

Vinhas do Pico
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As adegas do Pico e a casa do Ramo Grande faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.