Desde a fase pré-romana até aos tempos medievais. Na fase pré-romana, os lusitanos teriam uma divindade indígena alvo de um culto com algum relevo, o Deus Endovélico, que foi massificado com os romanos.
Como sucede com quase todos os cultos proto-históricos, não há grandes certezas. Linguistas, historiadores, arqueólogos procuram explicações e, simultaneamente, fundamentar algumas das teses que consideram mais corretas.
Com o Deus Endovélico a situação é mais ou menos semelhante. Por um lado, tem várias designações e os santuários podem ter mudado de lugar. Primeiramente, no Santuário Rupestre da Rocha da Mina e depois, com os romanos, ter passado para o cabeço de São Miguel da Mota. Por outro lado, esta divindade poderá estar associada à medicina, à cura de doenças ou à proteção depois da morte.
Há poucas certezas, como salienta Ricardo Pacífico, coordenador do fórum cultural do Alandroal - o que é absolutamente seguro é a descoberta arqueológica, por Leite Vasconcelos, de peças dos séculos I a III que revelam a existência de um culto.
Continua a recolha de material arqueológico e, praticamente, todos os anos há escavações em toda a área envolvente à ribeira devido à sua importância como espaço de sacralização.
Os vestígios encontrados vão desde o tempo pré-romano até à idade média, com a construção de igrejas, algumas delas aproveitando estruturas de cultos pagãos. Existem várias igrejas, como a da Fonte Santa, São Miguel da Mota e o Santuário da Nossa Senhora da Boa Nova. Esta última, é ainda local de peregrinação.
A designação da ribeira de Lucefécit, ela própria está envolta em mistério porque terá origem em Lúcifer, correspondente a Vénus, a estrela da luz.
Só que, tratando-se de um culto pagão, a igreja terá associado o nome a referências demoníacas e até Afonso X, nas Cantigas de Santa Maria, dedicadas a Santa Maria de Terena, prefere omitir o nome –
Dun rio que per y corre, de que seu nome non digo,
yndo pos el braadando: «Aquest' é noss' emigo.»
E o demo contra eles disse: «Que avedes comigo?
ca nunca eu vos fiz torto, sabe-o tod' esta beira.»
Quen serve Santa Maria, a Sennor mui verdadeira...
Além destes espaços de culto, é ainda possível observar outros pontos de interesse como sepulturas medievais.
Há também o Castelo velho (um antigo castro do III milénio antes de Cristo e está classificado como Monumento Nacional) e o Castelinho, um esporão rochoso que seria uma fortificação com muralhas de xisto que protegia o povoado na margem esquerda da Ribeira de Lucefécit.
Leite Vasconcelos associa estas duas estruturas ao Santuário Endovélico de S. Miguel da Mota, que fica relativamente próximo.
Estes espaços só são visitáveis com caminhadas, em alguns casos é necessário guia devido à dificuldade em localizar os locais de interesse. O melhor processo é contatar o Posto de Turismo do Alandroal para obter ajuda e acompanhamento nas caminhadas.
Quando se faz uma visita a algum destes lugares, é desejável um enquadramento histórico para melhor se perceber o “espírito” do sítio porque pouco resta em termos materiais. É o caso do Santuário Endovélico de S. Miguel da Mota que, nos dias de hoje, pouco mais é do que um marco geodésico.
Nos dias de verão, a caminhada pode ser complementada com um banho na barragem de Lucefécit, próximo de Terena.
Quem quer aproveitar a organização de um evento para visitar o “Vale Sagrado” tem o Festival Terras do Endovélico, entre 7 e 16 de Julho, organizado pela Câmara do Alandroal que vai recriar o culto do endovélico no cabeço de S. Miguel e garante transporte até ao local após inscrição no Posto de Turismo
Fontes de informação:
Portugal num Mapa
Câmara Municipal do Alandroal
Jorge de Alarcão, A religião de lusitanos e calaicos
José d'Encarnação, Divindades Indígenas sob o Domínio Romano em Portugal
A Ribeira do Lucefécit é um vale sagrado faz parte do podcast semanal da Antena1 Vou Ali e Já Venho e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio, A Ribeira do Lucefécit é um vale sagrado, pode ouvir aqui.
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