Trocou um trabalho estável na área de logística pelo voluntariado num hostel na cidade de Uvita, na Costa Rica, e não poderia estar mais realizada com a decisão. “Acordo todos os dias feliz, trabalho feliz, deito-me feliz. Vou dar um mergulho no mar, antes de começar o meu turno. Um luxo!”, escreve-nos Isabel, a partir das paisagens paradisíacas da costa sul do Pacífico deste país da América Central.

Mas como é que se toma a decisão de deixar uma rotina já construída para ir abraçar o desconhecido? No caso de Isabel, sentia que “que não estava a viver a vida como a tinha idealizado e como a queria viver”. Contudo, as contas, o medo e a falta de coragem iam adiando a decisão. “Foram travões neste sonho que tinha e, achava eu, não conseguiria concretizar”.

Até que conheceu a Costa Rica, numas férias em 2019, e o sonho começou a empurrar para canto as barreiras que o travavam até então. “Parti sozinha, de mochila às costas, durante 18 maravilhosos dias. E foi assim que me apaixonei por este belíssimo país. A Costa Rica é o tipo de país que nos acolhe pela sua imensa beleza natural, as suas gentes, a sua forma de levar a vida, que nos envolve numa energia de paz e tranquilidade constantes. É impossível não abrandar”.

E Isabel precisava mesmo abrandar: “vivia para o trabalho e encontrava-me em burn out, não dormia, sentia-me constantemente exausta e muito infeliz por sentir que os dias passavam e pareciam todos iguais”.

Quando regressou de férias, regressaram também estes sentimentos. “Em meados de 2020, mesmo com a chegada da pandemia, senti que não podia enganar-me por muito mais tempo. Tinha umas poupanças, tinha casa própria, senti que era o momento para arriscar, o ‘agora ou nunca’ da minha vida, e despedi-me do meu trabalho”.

“A Costa Rica pareceu-me a escolha óbvia para viver este 2021. O facto de ter as fronteiras abertas foi determinante para dar o passo em frente. Sabia que aqui seria feliz, e que estaria segura”. As previsões de Isabel estavam certas, uma vez que os números da COVID-19 são relativamente baixos no país e as pessoas cumprem as regras de segurança.

Fazer voluntariado no hostel Karandi, em troca de hospedagem, foi a solução encontrada por esta viajante para conseguir permanecer por tempo indeterminado e controlar os gastos durante a viagem.

“Neste momento trabalho no Karandi Hostel, na Costa sul do pacífico, a 10 metros de uma praia absolutamente paradisíaca, um verdadeiro paraíso na terra, inserido num dos imensos Parques Naturais da Costa Rica, o Parque Nacional Marino Ballena”.

“Trabalho 5 horas por dia, em horários rotativos, 5 vezes por semana, e descanso 2. Faço essencialmente a manutenção do hostel, onde tenho uma lista das tarefas que tenho de cumprir. Em troca tenho hospedagem, lavandaria, luz e água. Só pago a minha alimentação. Ocupo as restantes horas, a descobrir pontos de interesse na zona, trilhos que me desafiem, cascatas onde posso ir, caminhadas na praia, e, ao fim do dia, fico sempre pelo hostel”, conta.

Saiam da zona de desconforto. Sim, porque viver infeliz, é viver desconfortável

A sentir na pele os efeitos da pura vida – a filosofia de vida da Costa Rica –, Isabel já faz planos para os próximos tempos. “As transformações, estou em crer, estão já a ser internas e já dou por mim a pensar em como será a minha vida, quando tiver de voltar. Mas, na verdade, não creio que vá conseguir voltar à minha vida ‘anterior’, nos moldes em que a conhecia. Precisarei de trabalhar, pois preciso sentir-me útil e ocupada, mas poderá passar por trabalhar em algo mais adequado à minha personalidade. Organizar viagens à Costa Rica, por exemplo, seria uma excelente ideia”.

Até lá, e porque conta ficar um ano a viver esta experiência, Isabel ainda pretende visitar Guatemala, Panamá e Colômbia. Pode ir seguindo a viagem aqui.

Isabel acredita que muitas pessoas tenham este sonho, de deixar tudo para trás e abraçar uma nova realidade, mas falta, acima de tudo, coragem. “Trocar o que se julga certo pelo incerto. Essa dependência ao que é material mantém as pessoas de coração fechado e pouco disponíveis para mudar e experienciar novas formas de estar. E é preciso desejar mesmo muito que a vida mude. Será preciso lutar contra nós próprios, por essa mudança”, considera.

“Diria às pessoas que não desistam. Não é impossível. Façam pequenas mudanças diárias que tragam retorno ao ‘plano’ de vida que querem para si. O universo é amigo. O que damos, recebemos sempre. Não tenham medo. Saiam da sua zona de desconforto. Sim, porque viver infeliz, é viver desconfortável”, conclui.