Desta vez começo por um flash diferente: as mulheres nova-iorquinas (em geral, as norte-americanas) são excecionalmente companheiras. Quando viajei para Nova Iorque, Miami e Califórnia fiquei habituada, a cada viagem, aos elogios simpáticos e autênticos das americanas. Elas elogiam-te a saia, as pestanas, o cabelo, que naquele dia ia a brilhar para elas. Seja como for, elas elogiam nem que seja isso uma forma de cumprimentar. Ou um desejo de partilha para seguir o mesmo estilo ou ritmo.
Não é a pergunta escondida típica que engole o elogio através da inveja. E, desculpem, minhas companheiras, mas vemos muito disto entre as portuguesas. Algo que devemos mudar e as viagens ajudam bastante. Nunca tive ciúme de uma mulher, sempre admirei vitória e formas de amar que certas mulheres têm. Ser mulher em Portugal é difícil: ser mulher e boa profissional! Este conjunto não é para todas (há quem se contente com ser mulher com um horário de expediente normal e os típicos ‘goals’), daí que aprecio e elogio a beleza e profissionalismo da Catarina Furtado, assim como o pulso e o escudo da Cristina Ferreira, ainda a humildade e talento fortíssimo da Lúcia Moniz.
Ora e segundo flash em viagem muito diferente: em Abu Dabhi. Até chegar a este Emirado conheci uma filipina que viajou comigo a partir do Dubai num amoroso caminho de autocarro. Estava um dia escaldante, mas eu ia prevenida com lenços para prestar a minha homenagem e respeito às mulheres daqueles Emirados e também aos seus templos. Mas entre Emirados, admirava-me eu com a filipina que estava sentada ao meu lado. Sei que tirámos uma foto juntas depois de ela me contar a felicidade da vida dela: tinha deixado para trás as Filipinas porque queria singrar na vida e encontrou Amor e prosperidade no Médio Oriente. Todos os dias ela fazia aquele trajeto, naquele autocarro. E eu tive o privilégio de ir ao lado dela num dos dias da vida dela e em que a conheci inteiramente numa hora de viagem.
Contei-lhe um pouco dos meus planos de vida e que o amor, naquela altura, não era presença. Ela achou curioso e lançou-me uma mensagem como um presságio tão bonito como o sorriso rasgado dela. Assim cruzou-se uma portuguesa com uma rapariga filipina a meio do mundo. Em pleno Médio Oriente. Quando chegámos, despedimo-nos e sabíamos que não nos voltaríamos a ver, então o abraço foi mais forte. Depois dirigi-me à Grande Mesquita, a famosa dos Emirados, e lá vesti-me de outra forma de mulher: tapei-me completamente e percorri a riqueza da Mesquita observando cada passo de fé de outras mulheres, sobretudo as nativas. Apreciei os seus perfumes e os olhos sempre tão bem maquilhados. Não vi sorrisos, mas sei que estariam a pairar dentro do véu. Senti-me mais perto delas, não pelas vestes, mas porque passei a compreender mais. Porque viajar faz-nos isso mesmo. Dei a mão à civilização mais a Oriente.
Terceiro e quarto ‘flashes’ de viagem e de mulheres: na Turquia, muito brevemente, recordo-me de uma senhora turca me fixar os olhos e perceber que eu era ocidental. Eu estava de lenço floreado e umas galochas cor-de-rosa que uso até hoje. Ela baixou o olhar e perguntou onde poderia encontrar umas botinhas iguais. Eu sorri, escancarada, e entre lenços e segredos de mulher contei-lhe onde as comprei. Depois, na Tailândia, decidi mesclar a minha pele com elas e entregar o meu braço a uma tatuadora, pedindo-lhe: “faça a tatuagem mais nativa que desejar”. Atenção foi uma tatuagem que só durou catorze dias, mas que me uniu mais àquela civilização (também me fez pagar ao hotel a fronha da almofada à custa da tinta da tatuagem).
Sejam felizes, elogiem as outras mulheres quando o têm de fazer, pois Portugal tem de parar de ser um país que ficou simplesmente plantado à beira-mar. De vontade arrepiada, de voz baixinha. Ora voltem a ver o mapa. Recordem a esfinge do mapa europeu... a cabeça feminina é representada por quem? Pois: Portugal.
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