Ai, se me tivessem dito!
Se me dissessem, de antemão, que iríamos ver duas cobras, que escorregaríamos por um desfiladeiro feito de lama e raízes de árvores que se posicionam como corrimões de escada; se me dissessem que desceríamos pedras com o dobro do meu tamanho – para entrarmos em grutas onde esvoaçam morcegos, tantos que não podemos contar; e se me dissessem que veríamos um misto entre centopeia e cobra, com as cem patas e o corpo grosso de uma cobra; se me dissessem que atravessaríamos rios para continuar a caminhada, travessias onde metade de nós está dentro do rio, os pés lá enfiados e sabedores da existência de cobras de água, ainda assim, eu teria: enfiado o boné, posto a Mia às costas, subido para aquele barco e adentrado aquela selva, durante 6 (longas) horas, de mãos dadas contigo, sem olhar para trás.
E sim, também vimos sapos e libelinhas, vimos bagas e borboletas de cores que julguei apenas o imaginário pudesse pintar. Vimos folhas cujo tamanho nos cobria as caras, a Mia fez delas guarda-sol.
Aprendemos a diferenciar o bambo verde, escorregadio e carregado de fibras cortantes, do bambo seco e castanho, no qual nos podemos apoiar, aprendemos a estar atentos aos espinhos das plantas que, não sendo fatais, podem causar um inchaço tremendo e infeccionar.
Atiramos pedras ao rio na hora da merenda e fizemos dos ramos das árvores baloiço, logo depois de nos suspendermos neles, como se fossemos todos crianças, do tamanho da Mia, outra vez.
No regresso, bastaria olhar-nos para: as sapatilhas e as roupas, tão sujas; depois para as caras: onde moram, ao mesmo tempo, cansaço e sorrisos, para contar a história. Regressamos exaustos, felizes, fortes, somos sempre mais fortes quando enfrentamos um desafio. E nós fizemos um trekking, de 6 horas na selva do Bornéu, em família, pela primeira vez. O último tinha sido nos arrozais de SAPA.
Este artigo foi originalmente publicado em Menina Mundo.
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