É verdade, durante a nossa viagem trabalhámos um mês numa homestay, na selva do Bornéu, na berma do rio Sarawak, em troca de alojamento e alimentação.
Muitos já terão ouvido falar no conceito de trabalho em viagem, é uma forma de reduzir os custos e aumentar a duração da mesma.
Para nós seria uma novidade e queríamos acrescentar esta experiência à nossa viagem, sabíamos que não seria fácil sermos aceites, normalmente é coisa ‘guardada’ para quem viaja sozinho.
Foi no Helpx que encontrámos o nosso Kura Kura, à frente desta homestay está uma família de quatro: o Lars, a Lizza, a Froya e a Fiona, será fácil de entender o porquê de nos terem aceite assim, em família.
Não pensem que é de ânimo leve que dizemos que trabalhámos, foi trabalho a sério. Esfregámos paredes, até lhes subtrair todo o vestígio de humidade; limpámos e passámos uma cera protectora no soalho de madeira, até brilhar; enchemos cestos (maiores do que a nossa mochila de viagem) de frutos que nunca antes havíamos visto e também enchemos a barriga deles); podámos ananases, desmontámos as caleiras e pintámos as beirais dos telhados.
Ao final do dia, havia tempo para um banho de água fria (para nós), com água da chuva acumulada num alguidar gigante, havia tempo para descomprimir, onde até o vinho era permitido e ainda arranjávamos tempo para vos escrever. Ao fim-de-semana, conhecíamos caras novas, era a amizade a despontar.
Fizemos isto tudo sob o olhar atento da Mia, e parece-me certo a nossa filha ver os pais trabalharem em muita coisa, saber, não pelo que lhe dizemos mas pelos nossos actos, que sabemos e somos capazes de fazer muitas coisas diferentes e que é muito importante adaptarmos os nossos conhecimentos e capacidades às necessidades do momento.
E o que a Mia aprendeu não ficou por aí, aprendeu muito: aprendeu a ser irmã mais velha da Fiona e irmã mais nova da Froya, aprendeu a viver com um gato e a correr entre galinhas, ajudou a lavar, torcer, apanhar a roupa e a protegê-la da chuva, encheu o regador e regou as plantas. Aprendeu a descer e a subir – destemida – o caminho de flores cor-de-rosa, cheio de raízes a desenharem escadas, entre o barco e a casa.
Aprendeu a viver no meio da selva, com mais uma família, banhos de bacia com água da chuva aquecida e à mesa pratos malaios e sabores novos que desafiavam o palato, todos os dias.
E todos – nós e eles – ganhámos uma família amiga, do outro lado do mundo.
Este artigo foi originalmente publicado em Menina Mundo.
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