Há alguns anos vi uma fotografia de um lago suspenso sobre o mar. Como também já tinha visto fotos de unicórnios, dragões e do Elvis Presley a passear em Leça do Balio, achei que era só mais uma qualquer composição fotográfica e segui em frente. Mas as fotografias do tal lago continuavam a aparecer e fui forçada a admitir que aquele sítio existia mesmo e que, se calhar, era melhor ir até lá averiguar. O “lá” fica nas Ilhas Faroé, ali a meio caminho entre a Escócia e a Islândia e, a beleza daquelas 18 ilhas dava para distribuir, mas assim à vontadinha, em doses bem generosas por outras 180, que ainda assim ficavam todas roliças e luzidias de tanta beleza.
O lago Sørvagsvatn ou lago Leitisvatn, dependendo de a quem perguntarem o nome, da hora do dia ou de para que lado sopra o vento, foi de tal modo o grande propulsor da nossa viagem às Ilhas Faroé, que a visita a Trælanípa, a falésia de onde se consegue avistar o efeito do lago sobre o mar, foi a primeira coisa que fizemos na manhã seguinte à nossa chegada, mesmo havendo previsão de chuva, raios, coriscos, ciclones. Pronto, talvez haja aqui algum exagero...
E agora vamos a questões práticas: como é que se chega à falésia? Ora bem, há duas formas de fazer a caminhada de 3 km até ao lago: a mais usada, que é a que segue mesmo junto ao Sørvagsvatn e começa pouco antes da entrada para a aldeia de Midvagur, junto a um pequeno parque de estacionamento em terra batida. A segunda opção, a que escolhemos e a menos utilizada, numa onda "the road not taken", de Robert Frost, que segue mais por cima e é provavelmente um pouco mais fácil. Desde logo, porque o terreno é menos enlameado e segue mais a direito até Trælanípa. Para encontrar o início deste segundo trilho é necessário entrar na aldeia de Midvagur e seguir depois pelo caminho junto da igreja. Passados cerca de 700 metros a estrada acaba num estacionamento e começa aí a caminhada.
O trilho até ao cimo da falésia está bem marcado e só pelas cascatas que é preciso atravessar e as ovelhas que é preciso contornar já valeria a pena, mas é a vista final que é de cortar a respiração.
E agora, o momento "meninos não façam isto em casa": É preciso muito cuidado no cimo da falésia. Não há barreiras de proteção e, especialmente depois de uma chuvada, o que significa quase todos os dias nas Ilhas Faroé, o terreno fica muito escorregadio. É muito tentador ir até ao limite do precipício para conseguir o melhor ângulo mas qualquer deslize será com certeza fatal. Há um pequeno buraco feito por fotógrafos onde é possível encaixar-se para fotografar mas é preciso estar mesmo muito concentrado. É que convém não esquecer a história por trás do nome da falésia… Trælanípa quer dizer “a montanha dos escravos” e, segundo reza a lenda, na época dos Vikings, os escravos que ficavam demasiado velhos ou doentes para servir os seus donos eram conduzidos até ali para serem atirados da falésia.
Acompanhe as nossas aventuras mais recentes no Instagram Mundo Magno
Artigo originalmente publicado no blogue Mundo Magno
Comentários